Raoul Ruiz

O espectador sai tão leve das quatro horas e meia de Mistérios de Lisboa que só é possível concluir que Raoul Ruiz é o melhor diretor do mundo para adaptar livros clássicos, como fez com Marcel Proust em O Tempo Redescoberto,que o cineasta transformou em filme em 1999.

O que Ruiz faz com a obra de Camilo Castelo Branco – uma novela simples no texto e complexa na forma (já que é fartíssima de personagens e tem uma narrativa que se parte a cada vez que se quer apresentar um deles) – é, correndo o risco do adjetivos taxativos, sublime. Originalmente concebida como uma mini-série para a TV em seis capítulos, a adaptação rodou o mundo em festivais e ganhou uma surpreendente inclusão no circuito comercial brasileiro numa inicativa louvável do CineSesc.

O chileno radicado na Europa tem um domínio de cena assustador. Comanda o filme como um maestro, dando um movimento trágico-musical a todas as cenas, que ganham frescor e agilidade raríssimas em adaptações literárias de época. Ruiz confronta o clássico do material com o moderno do cinema digital,    explorando cores barrocas, evitando closes, dando mais imponência ao texto.

O diretor administra a profusão de personagens a seu favor, dando espaço privilegiado a todos, mas seu maior acerto é na composição da narrativa, que transita por épocas diferentes em flashbacks introduzidos com tanta suavidade que mal se percebe a transição de tempo. A energia do filme, que reinventa o clássico, só poderia vir de um diretor que, aos 69 anos, é dono de uma jovialidade que poucos cineastas parecem ter.

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[Mistérios de Lisboa, Raoul Ruiz, 2010]

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