O Lenhador , de Nicole Kassell.
(The Woodsman, EUA, 2004)
É impressionante como o tempo fez bem a Kevin Bacon. O ex-adolescente que estrelou filmes pipoca e que cresceu fazendo bobagens foi, aos poucos, virando ator sério. Neste filme, ele consegue seu papel mais corajoso e o interpreta com intensidade. A diretora Nicole Kassell faz um trabalho digno de aplauso ao extrair os clichês de uma trama de reaceitação. E não há certezas sobre os efeitos do eco que crime e castigo fazem nos ouvidos do homem que ficou 12 anos preso por molestar crianças.
Uma Noiva do Sétimo Céu , de Anastasia Lapsui e Markku Lehmuskallio.
(Jumalan Morsina, Finlândia, 2003)
Mais um filme no melhor estilo National Geographic de ser. Desta vez, o povo isolado que se apresenta são os nenets, que vivem no norte da Rússia. É lá que uma velha conta para uma criança sua sina de ter sido prometida a um deus, o que afastou sua possibilidade de felicidade. Curioso, bem fotografado, o filme vale mais por mostrar a exceção do que por ter méritos criativos. Os figurinos dos nenets são uma grnde surpresa, mostrando que a cor está em toda parte.
Caçado por Sonhos , de Buddhadeb Dasgupta.
(Swapner Din, Índia, 2004)
Excepcional. Meu primeiro encontro com Dasgupa revela que por ele tem a fama de grande cineasta. O tratamento fotográfico é espetacular, sempre procurando os planos mais bonitos, os quadros mais perfeitos. Mas o que mais impressiona é como o diretor consegue ter um resultado tão poderoso como um texto simples e sutil. O encontro dos três personagens (pela primeira vez, Dasgupta trabalha com os atores da Bollywood, a Hollywood indiana) remete ao inexplicavelmente ainda inédito O Novo País, vencedor da Mostra de 2001. A busca pela significação e pelo repatriamento não precisa ser pedante.
Machuca ½, de Andrés Wood.
(idem, Chile/Espanha, 2004)
Essa história, quem não viu? Amigos de classes sociais diferentes que se aproximam em tempos de mudança. O país é o Chile, a época são os últimos meses do governo de Salvador Allende. Gonzalo conhece Pedro e há identificalção imediata, mas o abismo que existe entre eles pode falar mais lto. Dirigido com correção, é um filme inegavelmente bonito e tem belos momentos com textos inteligentes. Anos-luz do nosso Olga (Jayme Monjardim, 2004), peca por seus pequenos clichês, como a cena em que praticamente reproduz Sociedade dos Poetas Mortos (Peter Weir, 1989), mas tem vigor e, apesar de uma conclusão fatalista, não deixa de ser um belo filme pequeno.
A Queda da Casa de Usher ½, de Jean Epstein.
(La Chute de la Maison Usher, França/Estados Unidos, 1928)
A intervenção musical do DJ francês Joakim permitiu ver, no cinema, este clássico baseado em Edgar Allan Poe, com roteiro de Luis Buñuel. Apesar da falha da não-tradução dos letreiros, que estavam em francês, a força das imagens de Epstein ainda impressiona. Os efeitos fotográficos e a iensidão do cenário reforçam o ambiente de sonho (ou pesadelo) sugerido por Poe. A trilha sonora ao vivo se integrou bem ao filme.