[mostra de cinema de são paulo – boletim dois]

[3 irmãos de sangue ]
direção: Ângela Patrícia Reinigier.

3 Irmãos d Sangue, 2006. Documentário emocionante sobre a vida e a obra dos três irmãos Souza, hemofílicos e vítimas da Aids. A diretora apresenta os três, sempre com a ajuda de depoimentos editados na medida certa, para em seguida mostrar a obra de cada um e, num último ato, mostrar como foram seus últimos dias. As histórias já têm atrativos suficientes para conquistar o público, mas, sem nunca pecar pelo excesso, esse documentário sabe bem com fazer uma homenagem e provocar algumas lágrimas, ainda mais no contexto histórico em que suas personagens viveram.

Com Henfil, Betinho, Francisco Mário.

[investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita ]
direção: Elio Petri.

Indagine su un Cittadino al di Sopra di Ogni Sospetto 1970. Esse filme de Elio Petri vive no limite extremo entre a comédia rasgada e a sátira política mais ousada. E é impressionante como Petri sabe dosar as duas bem e casá-las com eficácia. Volonté está soberbo no papel do chefe de polícia que comete um crime e tenta escondê-lo na mesma medida em que quer revelar-se. O discurso do protagonista quando ganha uma promoção é genial, cáustico e completamente atual, uma surra na sociedade organizada. E Florinda Bolkan está linda.

Com Gian Maria Volontè, Florinda Bolkan, Gianni Santuccio, Orazio Orlando.

[o céu de suely ]
direção: Karim Aïnouz.

O Céu de Suely, 2006. Imaginava que seria bom, não não pensava que fosse um dos melhores do ano, uma pequena obra-prima. Tudo funciona no filme de Aïnouz: desde a fotografia soberba de Walter Carvalho ao recorte de uma pequena cidade nordestina, com personagens bastante palpáveis e atores muito à vontade em suas caracterizações. O diretor é delicado na compoisição sonora desta história de uma mulher deslocada, para quem as referências sumiram ou se diluíram, que se vê sozinha. Naturalista ao extremo, o filme se move entre o seco e o suave. A dramatização é mínima e exata. Sem nunca querer ser grande, este filme consegue ser imenso, universal.

Com Hermila Guedes, João Miguel, Georgina Castro, Maria Menezes, Cláudio Jaborandy, Marcelia Cartaxo.

[o crocodilo ]
direção: Nanni Moretti.

Il Caimano, 2006. Nanni Moretti é um às nas duas intenções deste filme: a história de um homem decadente, que acabou de ter a família esfacelada e a história de um homem que surrupiou dele, Moretti, seu país. A tática do filme dentro do filme – durante muito tempo de um não-filme dentro do filme – poucas vezes foi utilizada com tanta inteligência, com diálogos algumas vezes preciosos. Talvez seja o filme político mais importante do ano. Não fosse uma escolha óbvia para uma cena catalisadora, seria perfeito. Não é, mas chegou muito perto.

Com Silvio Orlando, Elio de Capitani, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Nanni Moretti, Jerzy Stuhr.

[volver ]
direção: Pedro Almodóvar.

Volver, 2006. Devo dizer que Almodóvar se recuperou do tropeço que foi Má Educação (2004), mas ainda não voltou a sua melhor forma. Volver tem muito dos melodramas que inspiraram os últimos trabalhos do diretor, mas também recorre a alguns subterfúgios de suas comédias mais rasgadas. É um filme de família, sobre recompor a família e, em se tratando dele, pode se esperar muita brincadeira com o tragicômico, que o plano onde o filme se desenvolve. No entanto, Volver, a pesar de ser um bom filme, parece igualmente um filme pouco relevante, onde as reflexões e o olhar que Almodóvar soube apurar tão bem nos últimos tempos ainda estivessem esperando uma nova chance para reaparecer.

Com Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas, Blanca Portillo, Yohana Cobo, Chus Lampreave.

Comentários

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11 comentários sobre “[mostra de cinema de são paulo – boletim 2]”

  1. Milton, acho que o único filme da Pedrucha que subiu numa revisão foi “A Flor do Meu Segredo” _isso porque eu o havia detestado da primeira vez.

    Pensando melhor, “Matador” também subiu no meu conceito _mas este eu já tinha amado de primeira.

  2. Assisti no Rio e gostei muito, Marfil. O Di Caprio tá super De Niro e eu eu gostei disso.

    Milton, eu acho.

    Tobey, achei que depois da mesma música ter sido trilha sonora de um filme tão recente numa cena tão importante deste filme, o impacto foi menor. Isso embora eu ache que a perseguição de carros seja uma das melhores cenas do ano.

  3. Vc chegou a assitir “Os Infiltrados”, Chico? Uma pequena obra-prima…Não sou fã de Leonardo DiCaprio, mas tenho que admitir que ele está soberbo…Deve ser a consagração de Scorsese no próximo OSCAR. E curioso que Brad Pitt é o produtor do filme…Corre o risco de ter duas indicações. Já que parece barbada que será indicado por “Babel”. Gostei muito também de “Dias de Glória”, me surpreendi com a montagem e o roteiro.

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