Mostra de Cinema 2004, dia 7:

Ágata e a Tempestade, porque os pequenos podem bater os mestres

Steamboy , de Katsuhiro Otomo.

(idem, Japão, 2004)

Katsuhiro Otomo é o criador de Akira, o mangá que se tornou filme de animação. O meu favorito. Em Steamboy, ele volta a falar da tecnologia apesar de situar a história na Inglaterra do século 19. Um garoto recebe do avô a missão de proteger uma criação dele das mãos de cientistas malvados, entre os quais alguém que ele julgava morto. Apesar de ser, mais uma vez, extremamente bem sucedido na concepção visual de seu filme (a mistura de passado e futuro é muito boa), há um certo incômodo na visão de ciência como um condutor para a corrupção do homem. Otomo não parece apostar na idéia, mas não deixa de defendê-la. E há aqui e ali uns ecos de Guerra na Estrelas (George Lucas, 77) com direito a Darth Vader e a uma Estrela da Morte.

Twinni , de Ulrike Schweiger.

(idem, Áustria, 2003)

Eu queria muito que alguém me explicasse porque é que todo cineasta agora tem que brincar com os limites entre real e imaginário. Twinni poderia tranqüilamente ser a pequena história de uma adolescente cujos pais se separam indo morar no interior no a mãe e a irmã. Lá, ela teria que se adaptar ao ritmo e aos ritos da cidade e ainda encontraria um primeiro amor. Seria bonitinho, corretinho, nada demais, nada de menos. Mas a diretora austríaca inventa uns delírios da moçoila que não encontram explicação ou mesmo razão para sua existência. Por sinal, eles criam imagens de gosto bem duvidoso.

Ágata e a Tempestade , de Silvio Soldini.

(Agata e la Tempesta, Itália/Suíça/Inglaterra, 2004)

Ainda que não tão bom quanto Pão e Tulipas (2000), o novo filme de Silvio Soldini é uma daquelas comédias que parecem pequenas, mas trazem grandes discussões. Licia Maglietta, lindíssima, é vendida como protagonista, mas na verdade é coaduvante do drama de Emilio Solfrizzi, seu irmão que descobre que foi adotado. Quase uma dezena de personagens entram em cena com tramas paralelas onde se discute certo e errado, desenraizamento, a natureza das pessoas… tudo com um humor latino delicioso.

Os Sonhadores , de Bernardo Bertolucci.

(The Dreamers, Itália/França/Inglaterra/Estados Unidos, EUA, 2003)

Decepcionante o novo filme do Bertolucci. O encontro entre o estudante norte-americano e os gêmeos franceses é estranhamente mal resolvido. Estranhamente porque Bertolucci é um ás em dar belos desfechos para histórias difíceis, como no clássico O Conformista (70) ou no recente Assédio (98). Há uma série de motivos para gostar de Os Sonhadores: as inúmeras referências ao cinema, o pensamento esquerdista de um maio de 68, a descoberta do sexo, do amor, do reconhecimento promovida pelo encontro dos três protagonistas. Mas há algumas interferências nesta assimilação: Bertolucci não faz um retrato da época (isso é pincelado, mas nunca assumido); as supostas homenagens ao cinema muitas vezes caem num discurso vazio e apenas servem como ilustrações luxuosas, mas gratuitas; os conflitos (poucos, sejamos sinceros) entre o trio são mal desenvolvidos e muito pior resolvidos.

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