Mostra de Cinema 2004, dia 8:
Feminices, foto ruim para um filme bom
10 sobre Dez , de Abbas Kiarostami.
(10 on Ten, Irã/França, 2003)
Interessantíssimo documentário para se entender a dinâmica do cinema de Abbas Kiarostami. O diretor se aproveita da estrutura do seu então último filme, Dez (2002), para dar “aulas” do seu cinema. O filme tem um endereço certo, os estudantes de cinema ou cineastas aspirantes, mas é uma bela janela para quem quer conhecer melhor a lógica do cinema do iraniano (a pouca utilização de música, a busca pela naturalidade, o apego aos não-atores). Apesar de terminar revelando uma certa animosidade com o cinema norte-americano, 10 sobre Dez revela algumas das verdades invisíveis dos filmes de Kiarostami.
Visões da Europa , de vários.
(Visions of Europe, União Européia, 2004)
Um filme que é a colagem de 25 curtas dificilmente teria um resultado uniforme. A primeira desigualdade foi a de temas: uns preferiram a política (praticamente todos têm um visão bastante pessimista da União Européia), muitos resolveram falar da imigração (com resultados bastante irregulares) e outros preferiram a abstração. Entre cineastas desconhecidos e consagrados, o britânico Peter Greenaway é quem consegue o melhor resultado. Seu The European Showerbath é uma metáfora simples e eficiente (e muito bem filmada) para a confusão da UE. O grego Constantine Giannaris, com Room for All, faz o melhor dos filmes sobre a imigração: inteligente, bem editado e original. O holandês Euroquiz, de Theo Van Gogh, com seu game show absurdo, e Euroflot, de Arvo Iho, da Estônia, são os mais engraçados. O finlandês Aki Kaurismaki vai a Portugal, na aldeia de Bico, e mostra que a Europa ainda é medieval. E o esloveno Damjan Kozole acerta na simplicidade e faz de seu Evropa o mais sutil dos episódios.
Feminices , de Domingos de Oliveira.
(idem, Brasil, 2004)
Domingos de Oliveira recupera seu humor depois do ponto contra de Separações (2003). Este filme é uma belíssima surpresa, escorado no timing imoral do diretor para a comédia e nas deliciosas interpretações do quarteto fantástico de atrizes, com destaque para Clarice Niskier, autora da pessoa que baseia o filme, e a fofíssima Dedina Bernadelli, que me fez voltar à infância e às novelas da Globo nos anos 80 – por sinal a piada da série da Globo é ótima. Curioso que o que mais poderia dar errado (os comentários dos homens sobre as mulheres de 40) funciona muito bem.