Além do Azul Selvagem, de Werner Herzog.

O documentário de Herzog é uma farsa com belas intenções ambientalistas. Ao inverter a ordem das coisas, mostrando o homem encontrando, num planeta morto onde os habitantes mudaram-se para… a Terra, ele boicota com muito bom humor a matéria que poderia classificar seu filme como “importante”. As intervenções de Brad Dourif, o narrador alienígena, que seguem de muito, muito perto o caminho da brincadeira, são outro ponto contra a relevância do filme enquanto documento. Herzog, no meio disso tudo, dá seu recado e ainda nos brinda com imagens belíssimas do nada, nada não.

Cidade Baixa, de Sérgio Machado.

É de certa forma um filme decepcionante para quem esperava o primeiro longa de ficção de Machado porque sua câmera, seu roteiro, sua apresentação e composição das personagens são tão documentais quanto o belo Onde a Terra Acaba. E é justamente nesta tradução do triângulo amoroso, sem firulas e frufrus, que está o grande mérito do filme. O mais interessante é como Wagner Moura, Lázaro Ramos e, para minha completa surpresa, Alice Braga mais que todos, conseguem interpretações tão precisas e tocantes.

Por um Mundo Menos Pior, de Alejandro Agresti.

Estava fora dos meus planos até eu lembrar de que o diretor é o mesmo da pequena pérola chamada Valentín. Ver um segundo trabalho de Agresti me fez ter certeza do quão direto descendente ele é dos grandes cineastas do melodrama latino, do melodrama no bom sentido da palavra. Mesmo com um certo maniqueísmo latente, sobretudo no uso da bela música, Agresti doma os clichês e sabe criar como ninguém cenas verdadeiramente bonitas, na simplicidade e na identificação. Boa parte do elenco do filme anterior do diretor está de volta, como a ótima e linda Julietta Cardinali e o garotinho Rodrigo Noya aparece aqui num pequeno papel, com os mesmos megaóculos.

Free Zone, de Amos Gïtai.

Nos primeiros minutos, achei que Natalie Portman tinha feito Dez, do Kiarostami, e eu não tinha percebido. De fato, a câmera está dentro do carro em 90% do filme, mas Gïtai, mesmo sem o frescor do filme iraniano, consegue relativizar com sucesso as características dos povos do Oriente Médio. O carro é palco para que surjam as histórias de cada uma das três personagens e surge como espelho fiel das diferenças. É a zona livre onde é possível o encontro.

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6 comentários sobre “Mostra SP 2005: dia 3”

  1. “ele boicota com muito bom humor a matéria que poderia classificar seu filme como “importante”. As intervenções de Brad Dourif, o narrador alienígena, que seguem de muito, muito perto o caminho da brincadeira, são outro ponto contra a relevância do filme enquanto documento”

    CHico, nao ficou muito claro (pra mim ao menos) se vc gosotu ou não disso no filme.

    E adoro a cena da banheira em Mundo menos pior, entre outras coisas (e tambpem adoro Valentin!, hehe)

  2. Chico, eu gostei muito disso no filme do Herzog (como de todas as outras coisashehe), é o que prova que ele está disposto a levar a proposta adiante mesmo sem saber bem onde tudo vai dar. E o “special thanks to nasa for its sense of poetry” nos créditos é genial, além de muito engraçado é ele mesmo questionando essa lótgica das cenas contemplativas todas. Não sei até que ponto essa idéia de falso documentário é original, mas enquanto solução que ele acha pra comentar os problemas ambientais e os rumos do planeta como um todo, acho excepcional – corajoso e irônico até não pdoer mais, parece ele mesmo desconfiar e dar rasteiras no filme o tempo todo.

    É meu filme favorito do festival, junto com O Mundo.

  3. Guga, eu gostei, sim. Quis dizer que o Herzog não se preocupa em dar legitimidade à sua “denúncia” e é isso que faz o filme mais legal.

    Carlos, eu acho que o problema do filme do Herzog é o excesso de cenas meramente contemplativas (dentro da nave).

    Eu gosto muito de “Por Um Mundo Menos Pior”. Houve momentos em que pensei seriamente em dar 5 estrelas para o filme.

    Ailton, há alguns terminais em que não aparecem as estrelas mesmo.

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