Os Canibais, de Manoel de Oliveira.

Um conto popular vira musical operístico. Manoel de Oliveira, trabalhando com o absurdo, consegue resultados esplendidamente visuais e, mais uma vez, arranha com dor a carne da burguesia. O amor resiste aos obstáculos? Os interesses pessoais sobrepujam o amor, a ética? A última cena, onde o cineasta se permite destruir a última ligação do filme com o factual, algo que pode mesmo ser extremamente desprezível, é o ponto final mais adequado para uma fábula de mestre.

O Fim do Mundo/Namorados, de Shiori Kazama.

O velho conflito do jovem com suas metas, com seu futuro. Personagens perdidos no meio da metrópole, sem saber muito bem o que fazer com suas vidas e tentando se apegar a algo que se pretende sólido. Algumas cenas despertam certo interesse, mas a poesia que se tenta nunca se consuma muito bem.

Marcas da Violência, de David Cronenberg.

A sua família é você quem escolhe. Tom Stall escolheu sua parceira e com ela teve dois filhos. E nada vai fazer com que ele desista da família dele. Nada que venha de fora, nada que venha de dentro. Muita gente tem chamado de um Cronenberg “limpo”, mas, na verdade, é um dos filmes mais bem dirigidos do diretor, que consegue um crescendo aterrorizante com muita sutileza. Os momentos de riso, que a platéia fez questão de multiplicar, são um pouco incômodos. O filme, a meu ver, funcionaria plenamente se fosse completamente duro, mesmo assim não há demérito.

Cinema, Aspirina e Urubus, de Marcelo Gomes.

Talvez pelo sotaque, pelas expressões conhecidas, pela cultura muito próxima. Mas provavelmente por muito mais que isso. O longa de estréia de Marcelo Gomes é o melhor filme brasileitro do ano e um dos melhores filmes da Mostra. A história, simples, ganhou um dos roteiros mais bem acabados dos últimos tempos e uma caprichadíssima fotografia, que nunca se exalta no filtro e ganha pontos com a câmera criativa e os belos quadros que promove, competência presente em todas as searas aqui. João Miguel, apesar de fazer o “nordestino simpático” que já nos conquistou em muitos filmes com outros atores tão talentosos quanto, está perfeito no papel e é dono da melhor cena-solo do filme. É um filme que não busca atenção para si e isto faz dele muito maior do que muita coisa que surge por aí.

Be Movies: programa 2, de Khavn.

Tosco, tosco e de muito mau gosto. As sinopses indicavam curtas de terror, mas a coletânea de filminhos aqui caberia mais na definição de trash. Khavn não tem muito a dizer, então, busca o choque pela violência, sexo e podreira. Os filmes, que sempre começam na mesa de jantar de uma família filipina composta por um pai psicopata, uma mãe maluca, uma filha dadeira, um filho grandão e bobo, um bebê-anão e um morto, são muito mal feitos, num digital vagabundíssimo, com zero de coerência. As piadas funcionam muito pouco. O melhorzinho é o programa de TV da dona-de-casa.

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