Gomorra , de Matteo Garrone
Gomorra se esforça para fazer um raio-x aprofundado do modus operandi da máfia siciliana e, convenhamos, nada mais chato do que olhar uma radiografia. O diretor abre mão de protagonistas, o que ajuda a não desenvolver a contento nenhuma das histórias paralelas, e não estabelece conflitos, o que deve frustar bastante quem espera alguma ação. Um documentário funcionaria melhor. Enquanto a renovação do cinema italiano não chega, melhor se aventurar pelo que eles ainda fazem melhor do que ninguém: os melodramas familiares.
Cinzas do Tempo Redux , de Wong Kar-Wai
Não vi o corte original para poder fazer a comparação, mas Cinzas do Tempo em sua versão redux é decepcionante. A sensação é de se estar vendo um diretor sem a mínima intimidade com o material filmado se esforçando para tornar este material num filme “seu”. Num longa de artes marciais, as artes marciais se resumem a uma ou outra cena, geralmente filmadas com pressa para passar logo para os momentos de divagação, típicos de Kar-Wai. O uso dos filtros chega a ser irritante.
Queime Depois de Ler , de Joel e Ethan Coen
Eu geralmente recebo com pouco entusiasmo essas obras menores dos Coen. Eles parecem funcionar bem melhor quando são mais ousados, mas Queime Depois de Ler é uma pérola. Talvez seja a comédia mais bem acabada da dupla em se tratando de roteiro – um dos melhores timings para piadas em muito tempo. O humor convive com momentos de extrema sensibilidade, como as cenas da mais uma vez ótima Frances McDormand no parque ou de Richard Jenkins na Academia. O restante do elenco garante uma comédia de primeira, com destaque para George Clooney, JK Simmons e o geralmente subestimado Brad Pitt numa das melhores interpretações de sua carreira.
Julgamento , de Leonel Vieira
“O melhor filme da Mostra”, gritou o velhinho. Errr… não concordo muito não. Leonel Vieira deve ter visto muito filme brasileiro porque esse Julgamento bebe em fontes bastante reconhecíveis. O diretor tenta dar uma de moderno, adotando a mesma fotografia azulada usada hoje em dia para dar credibilidade a filmes supostamente sérios, mas isso não o salva de dar murro em ponta de faca, sendo mais um exercício de como remoer uma ditadura. O final, com reviravolta e tudo, é bem pobre. E há uma cena constrangedora no epílogo que parece punir um personagem por ele ter lavado as mãos. Portugal já fez coisa bem melhor.
Adoração , de Atom Egoyan
A premissa é interessante: se apropriar de uma história para si, como se ela fosse a sua. O problema é que tudo o que vem depois é muito ruim, muitas vezes beirando o ridículo. Egoyan parece bater na mesma tecla de sempre, intolerância, e com o mesmo formato de sempre, reinvenção inserida à narrativa, mas cada vez com resultados mais pobres. Adoração tem cenas que colocam em cheque tudo o que o diretor tenta levar a sério, como os chats com adolescentes fazendo profundas análises sociológicas e políticas ou as intervenções da burca metálica. Essas cenas, somadas à verdadeira história da professora de teatro, tiram qualquer mérito deste filme.
Sonata de Tóquio , de Kyoshi Kurosawa
Embora eu tenha duvidado dele no início da meia-hora final, em que as catarses dos personagens vêem à tona com certo destempero, é um dos melhores filmes da Mostra até agora. Talvez seja o melhor. Kurosawa se afasta um pouco de seu foco habitual para voltar a atenção para um Japão pouco explorado no cinema, um país impiedoso com quem fica de lado. Nesse Japão mostrado pelo diretor, os personagens são obrigados a conviver com seus próprios abismos enquanto buscam um rumo a seguir. Kurosawa é um cineasta de uma habilidade impressionante na criação de cada cena. Os elementos parecem conversar entre si e a imagem mais comum sempre parece valorizada ao máximo. Aqui, esse talento ajuda a desenvolver o vazio de cada personagem, sempre se apropriando de um timing preciso para contar a história. Mal comparando, é como se Babel fosse bem escrito e bem filmado.
O Clone Volta para Casa , de Kanji Nakajima
Pouco antes de entrar o Tiago Superoito me informou: “sabe quem estava atrás de você?”. Pensei na Marta, no Kassab, em alguém da Liga, mas era o Wim Wenders mesmo. Ele tinha esquecido o pente, mas foi bem legal. Foi ele que escolheu este filme para a Mostra. Eu tenho certa condescendência para filmes japas, ainda mais quando eles têm um quê etéreo e de ficção-científica. Esse tinha. A idéia não é tão nova (debater a clonagem e seus efeitos), mas uma certa inocência/imaturidade inerente ao filme me agradou muito. O embaralhamento da memória traz algumas seqüências bem bonitas, como a do irmão carregando o outro que acabou de desmaiar.
Caríssimo,
O filme aborda a máfia napolitana Camorra e não a siciliana. E apesar do livro ser melhor, o filme apresenta um relato do que ocorre nos dias de hoje na confusa e caótica Napoli e arredores. O personagem principal seria a localidade geográfica onde se cruzam os personasgens secundários.
Quando eu falo que esse mundo está perdido, Michel…
Chico, já ouvi pela Mostra gente comentando sobre seus textos no blog, tu já virou referencia hehe
A Mostra está muito aquém dos outros anos, na minha visão.
abraço,
Esperava um comentário mais inteligente de vc, Miguel.
Chico, Mostra, bienal…. Estras coisas me parecem mais pra gente modernet exibirem o quanto são pra frentex do que qualquer outra coisa. Dá sono!
Não tá tão maravilhosa assim não, Faéu, mas já vi algumas coisas boas.
O filme tem umas coisas bem imaturas, Tiago, mas acho bastante honesto.
Hoje vi o filme dele, Carlos. Escrevo à noite.
Eu não gostei nada do Egoyan, Marfil, achei bem fraco. McDonald é a Frances McDormand? hehe
Gostei muito de ADORAÇÃO. Achei exótico, imersivo. Simplesmente comprei a idéia do filme e adorei, principalmente a trilha musical do filme. QUEIME DEPOIS DE LER é entretenimento que passa num suspiro. Brad Pitt e McDOnald estão muito bem…
wim wenders passou do meu lado quando eu tava na fila pro três dias de chuva. o sujeito é muito, mas muito estranho mesmo.
Abandonei a sessão d’O clone com 60 minutos de filme… E o filme estava bom! Eu é que estava cansado pacas.
Ó Chico, pra você me parece que a Mostra tá bem superior. Ouvi muito a respeito da mornidade mas sua cotações estão bastante positivas.