A Festa da Menina Morta , de Matheus Nachtergaele
O filme de estréia de Matheus Nachtergaele como diretor tem acertos e erros. A história nos leva para uma pequena comunidade amazônica que vive em torno de um rapaz que ganhou fama por falar com o espírito de uma menina morta na região. A partir daí, o roteiro se divide entre tentar captar a lógica do ambiente, acertando na caracterização da vila, do cotidiano e de boa parte dos personagens, e ao mesmo tempo fazer o espectador comprar o quanto de underground tem o lugar, comandado por um cara afetado, descontrolado e que vive de vestido e faz sexo com o pai. Nesse aspecto, o filme chega bem perto do cinema ‘a vida é dura’, de Cláudio Assis, com uma série de momentos que parecem estar ali apenas para garantir a cota de autor alternativo de Nachtergaele: 1) galinha é degolada (esta já virou chavão); 2) porco é afogado (esta é nova para mim); além da tal cena de incesto, que chegou a gerar polêmica, mas é filmada de maneira bem discreta, quase escondida. O maior problema dela é que ela não se justifica no contexto, não acrescenta grande coisa à narrativa. Ou seja, parece gratuita.
Mas Nachtergaele acerta em muita coisa. A fotografia de Lula Carvalho é belíssima e, mesmo que a princípio pareça exibicionista, funciona bastante em favor do filme, que tem uma equipe técnica bem competente, ao mesmo tempo em que o coloca em sintonia com um cinema que sabe explorar a imagem no tom certo (como O Céu de Suely ou Clean). O desenho de alguns personagens é muito bom, como o das senhoras que circulam pela casa do santinho, boas atrizes, donas de cenas fortes. Jackson Antunes também ganha um personagem correto, embora pouco explorado. Já Juliano Cazarré é o melhor em cena, assumindo o papel do homem comum que traz o filme para a realidade e para uma postura mais ética em relação ao mundo. Dira Paes parece perdida, com um personagem sem função, e a aparição de Paulo José é pura perfumaria. Não serve para nada.
No entanto, é Daniel de Oliveira quem sofre com a inexperiência do diretor. Seu santinho é um personagem naturalmente afetado, mas Oliveira é dirigido para dar espetáculos em cada cena que aparece, o que o manda para o terreno do overacting muitas vezes ao longo do filme. É como se o diretor, um ator competente porém exagerado, se jogasse sobre o protagonista. Esse carma teatral atrapalha um pouco os êxitos de Nachtergaele, que, vez por outra, parece estar comandando atores num palco, com cenas muito marcadas, empostação excessiva da voz, excesso nos gestos. O clima over incomoda mais ainda nos momentos místicos do filme, como o encontro do personagem central com a mãe (Cássia Kiss meio deslocada) ou na cena final, que, apesar de uma imagem bonita, parece entregar um autor que não soube como encerrar seu filme.
Olha, Marcio, eu não desgosto do filme, mas estréia por estréia, “Cinema, Aspirina e Urubus” também era estréia.
Chico,
Tive impressões parecidas com as suas.
Cassia Kiss e Dira Paes um tanto perdidas e Paulo José teve menos atenção do que o porco. Aliás, absurdamente desnecessárias as cenas da galinha e do porco (eu tb só pensava no Claudio Assis na hora! rs)
Não gostei da montagem em vários momentos.
Mas, no todo, é de regular para bom e, convenhamos, é uma estréia na direção e acho-o bastante promissor na nova carreira.
Abs.
Tava previsto pra março, vamos ver.
Tenho interesse em ver A Festa da Menina Morta, gosto do Naschtergaele e do Oliveira, e o filme vem sendo bastante premiado … mas seu texto já aponta para algumas ressalvas que talvez devam ser feitas ao filme. Vamos aguardar … vc sabe se tem previsão de estréia nos cinemas ?