A Rede Social
The Social Network, David Fincher, 2010
Se existe ousadia em A Rede Social, ela mora no fato de que seu diretor amadureceu. David Fincher não usa nenhum dos artifícios narrativos que fizeram sua fama nos anos 90. Justamente onde eles mais cabiam, num filme sobre internet. Esse novo trabalho é incrivelmente sóbrio para sua temática. Fotografia funcional, montagem comportada; apenas a trilha sonora, assinada por Trent Reznor do Nine Inch Nails, que inclui elementos metálicos, soa diferente. E muito boa, por sinal. O que realmente chama a atenção no longa sobre a história do Facebook é como Fincher fez um filme simples, com a fluidez pop de sempre, mas sem recalques formais. O cineasta parece estar a serviço do roteiro, que executa com graça, equilibrando humor e melancolia como nunca fez. Jesse Eisenberg ofereceu ao projeto sua performance mais furiosa, compondo um personagem nerd vibrante ao mesmo tempo em que abre espaço para um pós-adolescente influenciável e inseguro. Andrew Garfield está tão bom quanto, mas seu personagem perde quando ele some da história. Os dois parecem estar se divertindo muito sob o comando de Fincher, que fez aqui seu melhor filme desde Zodíaco.
Quando Partimos
Die Fremde, Feo Aladag, 2010
Filmes étnicos podem ser extremamente maçantes. Por isso, a única característica que realmente diferencia Quando Partimos de muitos de seus pares é que o filme tem uma encenação esforçada com bons atores dando mais substância a personagens caricatos. Mas isto realmente não faz do longa de Feo Aladag um grande filme. Nem um bom filme. A trama é idêntica a muitas. Neste ano mesmo, o Festival do Rio apresentou Ayla, que conta a história de uma mulher turca que resolve abandonar o marido, fugindo com o filho e tendo que enfrentar as tradições que colocam a própria família contra ela. A mesma trama antiga deste filme. Mas se o longa de Feo Aladag acerta na encenação, peca na tentativa de dar ainda mais peso e significância à história, criando cenas que parecem ter sido feitas para vender o filme como “porrada real”. O problema é que todo mundo já cansou de ver filme assim. E, cá entre nós, aquele final fatalista a la Crash, é de partir o coração com um exemplo de mau gosto.
Memórias de Xangai
Hai shang chuan qi, Jia Zhang-Ke, 2010
O melhor documentário de Jia Zhang-Ke é encantador. O diretor se propôs a contar a história de Xangai através de depoimentos de pessoas que nasceram e moraram na cidade. Mas Jia evita o didatismo e faz um filme anacrônico, que viaja em ziguezague pelo tempo, com se lançasse uma pincelada em um lugar branco da tela a cada entrevista. Evitando criar o histórico oficial, o cineasta compõe um mosaico diferenciado, pontuado apenas pelo cinema, com clássicos chineses ajudando a ilustrar esse painel.
O Mágico
L’Illusioniste, Sylvain Chomet, 2010
O maior defeito de Sylvain Chomet para mim talvez seja sua maior qualidade para a maior parte das pessoas: o diretor dedica muito de seu trabalho a criar obras nostálgicas que parecem excessivamente calculadas. O Mágico, assim como As Bicicletas de Belleville, parece convocar o espectador a apreciar sua tristeza nobre e esquisita como forma de expressão genuína. É como se o filme gritasse: “olha como eu sou lindo”. Tá, é bonito mesmo, tanto no traço quanto em sua melancolia. Mas provavelmente Jacques Tati, que escreveu o roteiro anos atrás e não conseguiu realizá-lo, teria feito melhor. Tati sempre foi triste, melancólico, nostálgico, mas seus filmes sempre foram espontaneamente graciosos.
Aprendiz de Alfaiate
Petit Tailleur, Louis Garrel, 2010
Nesse média-metragem, o ator Louis Garrel mistura todas suas referências de cinema francês, incluindo Truffaut, Honoré e até seu pai, para criar uma historinha pequena que ele conta com fluidez, mas sem muito brilho e de forma simpática e econômica.
Um Homem que Grita
Un Homme qui Crie, Mahamat-Saleh Haroun, 2010
OK. A grande revelação de Um Homem que Grita é que ele só foi premiado em Cannes porque é do Chade, não é isso? A história ex-atleta que toma conta da piscina de uma embaixada, é substituído e perde o sentido da vida é um conto moral com subtexto humanista, mas literalmente mergulhado em lugares comuns, resoluções óbvias e uma realização convencional. É simpático, é bem verdade, mas poderia tratar os personagens com mais complexidade.
Animal Town
Animal Town, Kyu-hwan Jeon, 2009
Animal Town funciona muito mais enquanto seus protagonistas não se encontram, que é justamente a grande razão para o filme ter sido feito. Mas essa amarração final das duas histórias, apesar de parecer uma boa ideia, também tem ares de golpe de roteirista. Até a sequência final, Kyu-hwan Jeon filma dois homens solitários, que não conseguem mais se encaixar em suas vidas. E faz isso com destreza.
Cargo
Cargo, Ivan Engler e Ralph Etter, 2009
Uma ficção-científica suíça. Curiosidade imediatada. Mas Cargo é um tanto decepcionante, embora haja competência na concepção visual. O filme recicla um monte de lugares comuns sobre “tem alguém escondido na nave”, misturando as grandes scifis pop, como Alien e Matrix, com uma trama convencional de suspense. Pelo menos quase diverte até o final estragar as coisas.
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Acabei de assitir o filme e vim comentar =D
Só o que tenho a dizer é que o ator que faz o Marc( Jesse Eisenberg) foi incrivel neste papel. Um ótimo filme.