[The Loves of a Zombi, Arnold Antonin, 2009]
É muito, muito fácil achar Os Amores de um Zumbi uma grande porcaria. Um filme com recursos zero, feito no Haiti e sobre um morto-vivo candidato a presidente. Quais as chances de uma coisa assim dar certo? É extremamente natural que já se vá para a sessão disposto a enxergar o que se quer. O visual do filme, a primeira vista, reforça a impressão. A cópia não é das melhores e a câmera usada para as filmagens, uma digital mais-ou-menos. Tudo parece tosco. Mas somente se você resolver ficar no superficial. Por trás da história risível existe um subtexto político fortíssimo que gera frases como “por que um zumbi não pode ser presidente de um país em que todos estão mortos?” Coisa que não dá para ser ignorada quando se sabe que só um quarto da população do Haiti, que acabou de sair de uma Guerra Civil, não está infectada pelo HIV. Mas mesmo com sua crítica, o diretor Arnold Antonin sabe em que terreno está pisando. Seu filme abre espaço tanto para homenagear o universo dos zumbis no visual trash quanto para ironizá-lo, subvertendo personagens e regras do gênero. Por fim, o longa ainda celebra seu próprio país, elegendo os zumbis como patrimônio cultural nacional. Depois disso tudo, fica com a avaliação rasa quem quer.
[O Estranho Caso de Angélica, Manoel de Oliveira, 2010]
O novo filme do cineasta mais velho do mundo tem efeitos especiais. Manoel de Oliveira cria uma história de amor que transcende a morte em O Estranho Caso de Angélica, um respiro em seus filmes mais densos, uma brincadeira conduzida com suavidade, apesar do diretor sempre fazer questão de dar corpo ao sentimento de seu protagonista. O roteiro abraça o fantástico e as imagens incorporam a ideia sem pudores numa das cenas mais lúdicas da filmografia recente do cineasta. O filme também é farto de bom humor, mesmo quando Manoel faz suas citações de praxe, elegendo temas curiosos para uma mesa de almoço. O que me incomodou um pouco no filme foi o quão escuro ele parece. Não sei até que ponto a projeção tem culpa nesse cartório.
[La Femme Invisible (D’après une Histoire Vraie), Agathe Teyssier, 2009]
A experiência de Agathe Teyssier como cineasta antes de A Mulher Invisível se resumia a um curta. Saber disso só aumenta o mérito da diretora nessa comédia com temática fantástica, no sentido literal da palavra. O roteiro, igualmente assinado por Teyssier, é doce, administra seu delírio com uma melancolia inteligente e bastante sensibilidade para não cair nas armadilhas da piada fácil. Mesmo tendo muito humor, esse é um filme triste que versa sobre solidão. Julie Depardieu está perfeita. Charlotte Rampling é a cereja do bolo.
[Single Man, Jie Hao, 2010]
Muita gente abandonou O Solteiro pela metade. E isso deve ter a ver com o fato de tudo no filme girar em torno de sexo. O longa de Jie Hao sobre os bastidores de uma pequena vila chinesa não é exatamente bom, mas um filme chinês tão safado, no sentido sexual da coisa, é no mínimo muito curioso. Eu não lembro de ter assistido a outro longa chinês em que o sexo fosse a mola mestra do roteiro. Pelo menos nesse nível. Não existe sensualidade, mas motivações sexuais em praticamente tudo. E as músicas com letras explícitas sobre órgãos genitais e coisas afim são impagáveis.
[Broderskab, Nicolo Donato, 2009]
Irmandade é um exemplo típico do filme que aposta bastante na particularidade de sua sinopse, mas que não sabe, se acanha ou não tem interesse mesmo em desenvolvê-la a contento. O dinamarquês Nicolo Donato narra a história do romance entre dois homens, com o diferencial de que eles fazem parte de um grupo neonazista. O ponto de partida insólito inicia várias discussões, mas nenhuma é desenvolvida completamente.
[Rondo, Olivier Van Malderghem, 2010]
Rondo é um daqueles filmes em que as intenções contam mais – ou menos, dependendo do ponto de vista – do que sua realização. Tecnicamente, o filme é acadêmico, mas todo corretinho, com fotografia, direção de arte, trilha, tudo no lugar. Mas quem aguenta mais um drama sob o olhar de uma criança que perdeu a família durante a Segunda Guerra Mundial? O diretor Olivier Van Malderghem, que estava presente à sessão e saiu sem receber aplausos, usa como pode os clichês do “gênero” e faz um filme maniqueísta, burocrático e esquecível, com direito a uma metáfora para a morte vergonhosa de tão óbvia. Não fosse um momento de epifania com uma girafa, o longa não teria absolutamente nada a oferecer.
Comentários curtos e primeiras impressões sobre os filmes da Mostra no Twitter
Lista com todos os filmes vistos na Mostra SP 2010
mais Mostra SP:
– Indicados ao Oscar de filme estrangeiro na Mostra SP
– Metrópolis, de Fritz Lang, restaurado, exibido de graça
– Top 20 Mostra SP 2009
Olá, Chico! Tudo bem?
Acompanho a bastante tempo e sou fã do seu site!
Bom, também gosto muito da Mostra de Cinema, ano passado assisti 25 filmes, e esse ano até o momento já assisti 10.
Pô, achei o “Os Amores de um Zumbi” sensacional! Um dos filmes mais engraçados que eu já vi, e é bastante inteligente.
Nesta mostra, até o momento, também gostei do “O Clube do Suicídio”, que também foi um filme barato, mas com boas idéias como “Os Amores de um Zumbi”.
O “Cópia Fiel” me decepcionou um pouco, quando eu vou ver algum filme do Abbas Kiarostami espero aqueles experimentalismos radicais, e que muitas vezes dão muito certo, como “Cinco” e “Shirin”, mas mérito dele também, que assim como o Shalayaman (não sei direito como escreve… rs), parecem filmar exatamente o que estão com vontade, mesmo que frustem seu público.
“Mamma Gogo” da Islândia é horrível, muita produção pra pouca idéia; “Cirkus Columbia” da Bósnia é uma boa comédia. Escrevo sobre cinema. Escrevo sobre cinema na revista Alias, http://www.aliasrevista.net/
Nesta edição, estou falando sobre Santiago.
abraços
Marcelo
Deixei ele escrever aqui, pois logo que abri o site ele gritou dank!!!!!
Bjocas!
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Para tio dank do biiel