Vénus Noire, Abdellatif Kechiche, 2010
Eu sempre fico questionando um filme que, sob o pretexto de denunciar uma barbaridade, a reproduz no melhor estilo de sadismo. Abdellatif Kechiche é um cineasta respeitado, ganhou prêmios importantes e fez filmes elogiados. Teoricamente, não precisaria deste artifício, mas Vênus Negra, apesar de ser um filme de qualidades, opera no limite do excesso. Kechiche introduz a história que, ao final sabemos ser real, da africana levada para a Europa como monstro de circo na base do desconforto com cenas que retratam a humilhação pela qual a protagonista passou e, ao longo do filme, promove uma das “descidas ao inferno” mais cruéis dos últimos tempos. O diretor investiga a maldade humana assumindo para si a perversidade dos “vilões”, adotando a estética do choque como modelo narrativo. Embora seja muito bem encenado e produzido, este é mais um filme que ganha pela espetacularização do sofrimento, justamente o que ele parece querer denunciar.
Shinboru, Hitoshi Matsumoto, 2009
Nada que a Mostra 2010 exibiu neste ano lembra de longe este Símbolo. O filme de Hitoshi Matsumoto, que também é o protagonista, abusa da liberdade narrativa, visual e de roteiro, criando uma comédia deliciosa, lúdica, mágica e perturbada que evoca Jerry Lewis, mas tem a melancolia de um Jacques Tati. O cineasta carrega na simbologia, nunca oferece metáforas imediatadas e transforma seu longa num manifesto que pede atenção para o mundo de hoje. Belíssimo.
Cirkus Columbia, Danis Tanovic, 2010
O esfacelamento da Iugoslávia ganhou mais um rebento. Desta vez em forma de pequena comédia dramática sobre a volta de um pai pródigo para casa. Danis Tanovic nunca ousa: faz um filme simpático, vendável, mas toca em assuntos sérios como família, primeiro amor e deveres para manter o respeito. Miki Manojlovic reprisa tipos que viveu em filmes como Underground, sem a grandiosidade, mas com um toque mágico na cena final, uma epifania. O mais curioso foi ver Danielle Rousseau, de Lost, fora da ilha, como a mãe da protagonista, falando em bósnio. Indicação da Bósnia ao Oscar 2011.
Wszystko, co Kocham, Jacek Borcuch, 2010
Tudo Que Eu Amo é todo pequeno. O cenário é a Polônia do começo dos anos 80, com o crescimento do Partido Solidariedade de Lech Walesa e das tentativas das autoridades socialistas de minar sua força. Apesar do tom melancólico, o filme exala uma leveza impressionante, promovida pelo protagonista, um adolescente que comanda uma banda de rock. O diretor Jacek Borcuch explora essa juventude como força política, deixando as ações dos personagens como reações imediatadas de quem está começando a descobrir o que não gosta no mundo.
Todos Vós Sodes Capitáns, Oliver Laxe, 2010
O filme de Olivier Laxe demonstra toda a falta de maturidade do cineasta, para o bem e para o mal. Ao mesmo tempo em que mostra que está disposto a criar, mudando de perspectiva a cada minuto, trabalhando no limite entre realidade e ficção, Laxe esbanja pretensão: enche o filme de maneirismos cult no formato e na narrativa, explora os personagens reais a seu bel prazer, cria cenas de puro onanismo como a em que sua mãe o visita e parece se auto-sabotar o tempo inteiro. É interessante, mas irrita.
Bay Rong, Le Thanh Son, 2010
O Vietnã dá sua versão para o cinema de ação asiático numa comédia que homenageia e satiriza o gênero. A protagonista reúne todos os clichês das heroínas de ação: é dura, forte e prendada nas artes marciais, guarda um segredo e tem seu trauma contado aos poucos. O filme é simples, mas passa rápido, mas diverte do começo ao fim.
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Todos os filmes vistos na Mostra SP 2010
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Hello.This post was extremely motivating, especially because I was browsing for thoughts on this topic last Monday.
Sobre a questão de Venus negra, o filme mostra a dura realidade, e pouca gente gosta de ver esse tipo de realidade.
Puxa vida, pelo visto perdi um filmão, acabei chegando um pouco atrasado.
Nas Mostras geralmente eu gosto dos filmes mais doidos, ainda bem que tive a sorte de assistir “A Casa de Palha”, sensacional!
Tão doido que metade do público deixou a sala no meio da sessão.
Símbolo é divertidíssimo. E retardado. Eu, que sou um pouco retardado, adorei.