Habemus Papam ½
[Habemus Papam, Nanni Moretti, 2011]
Algumas reações a Habemus Papam me pareceram mais descabidas do que a confusão com horários, janelas e legendas do filme de Nanni Moretti na Mostra. Muita gente cobrava do diretor uma posição mais veemente contra o Vaticano. No fim da sessão, ouvi um senhor falando em falta de coragem. Estranho porque, na minha compreensão, Moretti esfacela a Igreja Católica com um Papa com crise existencial, cardeais que pedem a Deus para não serem escolhidos para a vaga deixada por João Paulo II e um humor ferino, embora nunca agressivo, que ridiculariza as mordomias e a perda de fiéis do Vaticano. Se alguém quer mais do que isso, precisa dar uma ideias pro Michael Moore. Com inteligência e sem exagero, Moretti faz um dos filmes políticos mais bem resolvidos dos últimos tempos.
Irmãs Jamais
[Sorelle Mai, Marco Bellocchio, 2010]
Um dos projetos mais pessoais de Marco Bellocchio, Irmãs Jamais foi filmado ao longo de nove anos e tem como estrela a família do próprio diretor. A história tem um esquema documental, mas Bellocchio coloca os parentes para encenar uma trama fictícia na cidade onde eles moram. A proximidade entre cineasta e material rende uma intimidade pouco vista, mas também expõe precariedades. Como se tratava de um filme caseiro, o diretor não conta com quase nenhuma estrutura: a luz utilizada é natural e o filme, escuro, às vezes é meio difícil de ser assistido.
The Forgiveness of Blood
[The Forgiveness of Blood, Joshua Marston, 2011]
A estreia de Joshua Marston foi num filme falado majoritariamente em espanhol que conseguiu render à colombiana Catalina Sandino Moreno uma indicação ao Oscar. Sete anos depois de Maria Cheia de Graça, o californiano volta à direção, desta vez com um drama falado em albanês e com uma história e atores locais. Mais globalizado, impossível. The Forgiveness of Blood é bem narrado, mas não foge àquele padrão meio frio e distante que se espera de um bom filme europeu. A trama parece saída de um livro de Ismail Kadaré, com famílias que não exercitam sua rivalidade violentamente através das gerações. Embora não traga nada de novo, é uma experiência bem interessante.
A Cor da Romã
[Sayat Nova, Sergei Paradjanov, 1968]
Confesso que tinha confundido A Cor da Romã com Sombra dos Ancestrais Esquecidos. Ambos passaram, alguns bons anos atrás, no Telecine. Enquanto o segundo narra um história com uma fotografia belíssima, este aqui é uma espécie de filme-instalação em homenagem ao poeta Sayat Nova, com referências que vão desde o cinema mudo ao teatro kabuki – e muita, muita religião. O poeta é caracterizado como um Jesus Cristo do seu tempo e Paradjanov explora essa semelhança em parábolas cristãs que nem sempre são claras. O não-realismo dá menos impacto às imagens, embora o diretor garanta um festival de quadros detalhadamente planejados.