The Act of Killing

Nem Invocação do Mal, nem qualquer outro. O filme de terror mais assustador do ano é O Ato de Matar, uma obra que prova que o verdadeiro mal está muito mais perto do que se imagina. O terror desta coprodução entre Noruegua e Dinamarca não vem de fantasmas, criaturas mitológicas ou eventos sobrenaturais. Seus parentes mais próximos são os filmes de psicopatas e os longas de tortura que foram redescobertos na década passada. Mas ao contrário destas obras de ficção, o que assusta neste filme é o quanto ele é real. Em lato sensu e stricto sensu.

O personagem principal do longa é Anwar, um vovô que é herói de guerra. Seu feito? Promover chacinas que mataram centenas de pessoas. Histórias que ele não apenas conta aqui. O documentário, capitaneado por Joshua Oppenheimer, devassa um dos capítulos mais sangrentos dos últimos 50 anos, o genocídio promovido por gângsters indonésios em seu país, patrocinado pelos militares que assumiram o governo em meados dos anos 60. Mais do que entrevistar os homens envolvidos com aqueles massacres, como Anwar, o diretor os convida a reviver aquela época, reencenando as chacinas que, muitas vezes, tinham no cinema sua fonte de inspiração.

Oppenheimer se utiliza do surrealismo para pontuar o longa. Este parece ser o único caminho para que o espectador consiga processar os atos cometidos por aquelas pessoas, que recriam, orgulhosas, o que fizeram. Então dançarinas que bailam coloridas em frente a peixes gigantes se misturam às conversas com os assassinos antes que eles, em cenários estilizados que às vezes parecem de filmes trash, reencenem os momentos em dizimaram famílias inteiras acusadas de serem comunistas. Neste mundo completamente antirrealista, o diretor se sente à vontade para mostrar o resultado de sua investigação. Oppenheimer se aproxima dos assassinos, conquista sua confiança, para então dar a chance de eles mesmos se denunciarem.

O Ato de Matar torce todos os conceitos de ética num documentário, mas seu resultado é infinitamente mais poderoso do que nos longas de Michael Moore. O próprio diretor afirma que seu filme, em certo momento, se torna uma “ária alucinatória”, que ultrapassa os limites do documentário tradicional, cada vez mais em desuso, e assume o delírio talvez como única forma de tentar entender que mecanismo move aqueles personagens. Perto do final, o carrasco Anwar, depois de ele mesmo assumir o papel de vítima numa das encenações, questiona: “as pessoas que eu torturei se sentiram como eu me senti nessa cena?” e chora. Oppenheimer adota uma certa amoralidade para com seus personagens e talvez os confrontando com a natureza de seus atos descubra sua humanidade.

O Ato de Matar EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[The Act of Killing, Joshua Oppenheimer, 2012]

http://www.youtube.com/watch?v=tQhIRBxbchU

Comentários

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7 comentários sobre “Festival do Rio 2013: O Ato de Matar”

  1. Esse é mais um filme que está recebendo muitas críticas positivas por aí, sendo chamado até de “revolucionário”. Na verdade ele não apresenta nada de novo, sendo até bem apelativo no nível de um “Jogos Mortais” da vida. Mas logo entendemos o porquê da massiva propaganda que está sendo feita em cima, a fim de torná-lo um novo cult: ele mostra um capítulo da história (sob uma perspectiva apenas, claro. sempre é assim) onde comunistas foram perseguidos e mortos. A finalidade é como de costume fazer os comunistas parecerem vítimas, pobres coitados. Ainda estou pra ver um filme retratando o banho de sangue feito pelos marxistas no Camboja, Cuba, Etiópia, Coréia do Norte, China, Rússia, Romênia, etc… virar filme e ser tão aclamado pela mídia. Fórmula fácil para seu filme receber apoio fervoroso dos críticos por aí: pinte os comunistas como vítimas.

    1. Seu comentário é tão estúpido que me dá vontade de vomitar. A crueldade do ser humano independe de ideologia. Tanto faz se comunista, capitalista, reaça, anarquista, hippie ou o que seja; nada justifica a brutalidade com que vidas são ceifadas e famílias inteiras dizimadas. Deixe de ser imbecil.

  2. Acabo de ver no CCJF.
    Foi o filme mais impactante, cruel (quanto às possibilidades do ser humano) que assisti. Em especial por não ser uma ficção. Em especial pela capacidade dos autores de atrocidades se mostrarem a nú, sem meias palavras.
    Deveria ser obrigatoria a sua exibição em uma assembleia da ONU para se mostrar a sua nulidade enquanto Organização.
    Vou levar alguns dias para melhor digerir o filme.
    Não entendi (ou entendi!!!) porque mais da metade da platéia saiu antes do final do filme.

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