[diversão a toda prova]


É impressionante como se perde tempo com bobagens. Há uma predisposição generalizada a considerar O Código Da Vinci um filme medíocre desde que se começou a falar que o best seller de Dan Brown seria adaptado para o cinema. E existem vários fatores para justificar os ataques que o filme vem recebendo: o primeiro, o fato de ser baseado num livro extremamente popular, tanto nas vendagens quanto no zumzumzum que o tema provoca. E bilheteria geralmente – geralmente não é sempre – é sinônimo de insucesso crítico ou artístico. O segundo motivo tem três partes: Ron Howard, Tom Hanks e Audrey Tautou.

Ron Howard, esse, sim, é um diretor medíocre, responsável por uma carreira inteira de fiascos – filmes desinteressantes, sem identidade e sem talento. Frases como “eu odeio Tom Hanks” são ouvidas a esmo e comumente atribuídas às personagens boazinhas que deram fama ao – bom – ator de Forrest Gump (Robert Zemeckis, 1994). Audrey Tautou, por sua vez, sofre do estigma de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Jean-Pierre Jeunet, 2001), que tem tantos detratores quanto fãs. Talvez mais detratores dispostos a enxergar as más intenções de seus realizadores.

Cenário perfeito, catapultado pela dedicação compulsiva da imprensa aos bastidores da produção e à imensa divulgação do filme, para se falar mal.

Pois bem, O Código Da Vinci expõe em toda sua duração a inexpressividade de seu diretor, o bom mocismo de seus protagonistas, mas, a contragosto de todos, é um bom filme. E o principal culpado por isso é o autor do livro, um ás em criar elos, ligações, explicações, geralmente fantasiosas ou exageradas (ou não comprovadas), a cerca de fatos históricos, filosóficos e religiosos que fazem parte do mais nobre altar do imaginário popular. E, o que é mais fascinante, é que a obra se assume muito mais como thriller, como suspense, do que como documento. E o filme reproduz o livro (claro que com perda; sempre há) nesse aspecto.

Ora, a ficção a serviço do entretenimento faz parte dos alicerces da história do cinema. Então, condenar um filme por ele ser uma bobagem feita para divertir e ficar inventando motivos para desdenha-lo é coisa de bocó. O Código da Vinci não está a serviço da história, longe disso. O filme, mesmo com seu tema, digamos, de alcance universal, é para consumo imediato, para ser degustado como fast food numa tarde no cinema. Vai e deve ser esquecido muito rapidamente, mas até lá ele cumpre, muito bem, seu papel. É impressionante como se perde tempo com bobagens.

[o código Da Vinci ]
direção: Ron Howard.
roteiro: Akiva Goldsman, baseado no livro de Dan Brown.
elenco: Tom Hanks, Audrey Tautou, Ian McKellen, Alfred Molina, Jürgen Prochnow, Paul Bettany, Jean Reno, Etienne Chicot, Jean-Pierre Marielle, Clive Carter, Seth Gabel, Marie-Françoise Audollet, David Bark-Jones, Jean-Yves Berteloot, Daisy Doidge-Hill, Paul Herbert, Peter Pedrero.
fotografia: Salvatore Totino. montagem: Daniel P. Hanley e Mike Hill. música: Hans Zimmer. desenho de produção: Allan Cameron. figurinos: Daniel Orlandi. produção: John Calley e Brian Grazer. site oficial:
o código Da Vinci. duração: 149 min. the Da Vinci Code, estados unidos, 2006.

nas picapes: [One More Time, Daft Punk]

Comentários

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23 comentários sobre “[o código Da Vinci]”

  1. Ron Howard fez um belo filme chamado “Parenthood”, com o Steve Martin.

    Agora, “O Codigo Da Vinci”, tanto o livro quanto o filme, são duas belas bobagens…

  2. Ninguém comentou que o Jürgen Prochnow está no filme. Gostei muito do “Das Boot”.

    Li num artigo que uma pesquisa (pouco confiável, espero) mostrou que 60% dos leitores de “O Código Da Vinci” acham que “é tudo verdade”… Que medo da humanidade!

  3. Concordo quando diz que o filme não está a serviço da história, que as polêmicas criadas ao seu redor são bobagens e que ele existe para divertir. Mas aí é que está o grande problema: o filme não diverte, ao menos não a mim. É arrastado, sem criatividade, não consegue reproduzir a tensão criada por Dan Brown no livro.

  4. Eu concordo. Eu não li o livro e ademais não me importo com roteiros, mas achei que Ron Howard fez um surpreendente (pros padrões dele) trabalho na direção. Passatempo descartável mas agradável.

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