A afetação nerdie de Miranda July incomoda muito. Como cineasta, a multiartista não tem a mão para saber quando deve parar de encher seus filmes com esquisitices fofas. Se essas opções de linguagem e de estética dialogam com um público específico, tende a afastar os outros espectadores que rejeitam esse misto geek-hipster que domina seus trabalhos no cinema. O Futuro, seu segundo longa, que estreia no Brasil com dois anos de atraso, é bem melhor do que a estreia nefasta de July, Eu, Você e Todos Nós, onde parece decretar que todo mundo é imbecil. A proposta parece interessante: observar a crise de um casamento a partir da perspectiva de cuidar de um gato doente.
Enquanto não há planos para o futuro, está tudo bem, mas quando os namorados se vêem obrigados a uma convivência de pelo menos cinco anos (o tempo de sobrevida do animal), o compromisso pesa. Aqui, ela não está interessada em “revelar” os pequenos segredos de cada um, mas procura deixar clara sua delicadeza débil, inserindo devaneios em todas as cenas. Na melhor delas, quando os namorados começam a imaginar a vida separados, o filme parece começar a apresentar um olhar interessante sobre solidão, mas July mais uma vez recorre a maneirismo indies e complica o resultado. Os méritos (ou deméritos) desse filme refletem uma espécie de cinema independente americano, que vem se desenhando nos últimos 15 anos, calcado em personagens melancólicos e um a certa inércia dos atores. Talvez esse cinema seja um reflexo de uma geração, que finalmente encontrou sua voz e sua representação. O problema é quando você se pega torcendo pro gato-narrador com voz de bebê se dar mal porque fica claro que a forma muitas vezes enclausura a mensagem.
O Futuro
[The Future, Miranda July, 2011]