As marcas que costumamos reconhecer no cinema dos irmãos Dardenne aparecem fartamente em O Garoto de Bicicleta: a câmera naturalista, as interpretações econômicas, os personagens amargos e solitários estão presentes no novo filme da dupla, que narra a história de um garoto abandonado pelo pai. A natureza da trama é semelhante às temáticas duras que vimos em filmes como O Filho e A Criança.
Como nesses filmes, a paternidade está no centro da discussão. No entanto, o longa indica uma mudança drástica no tom do cinema dos irmãos belgas. Os protagonistas continuam cercados por um mundo cru e cruel, que em seus outros longas ultrapassa os limites do realismo e namora com um certo fatalismo. Desta vez, embora os diretores não nos poupem de cenas angustiantes, O Garoto de Bicicleta não aposta em personagens frios, enclausurados por planos rigorosos.
A palavra seria alívio. Pela primeira vez, os Dardenne parecem oferecer uma chance para seus espectadores. A chance de torcer pelos protagonistas. A própria escolha da ensolarada Cécile de France para um dos papéis principais pode ser um reflexo disso. Desde as primeiras cenas, o filme deixa espaço para uma possibilidade de transformação – e até redenção. A vida continua dura para os personagens, o ambiente ainda é hostil, mas, apesar de uns sustos pelo meio do caminho, já é possível fazer planos para amanhã.
O Garoto de Bicicleta ½
[Le Gamin au Velo, Jean-Pierre e Luc Dardenne, 2011]
Gostei do filme, mas achei o mais fraco dos irmãos.