É um destes filmes em que a idéia é muito melhor do que a execução. Talvez isso já venha do livro em que O Grande Truque se baseou, mas a promessa de um Os Duelistas mágico ficou em algum lugar do caminho. A história, mesmo tendo como cenário o mundo fascinante dos ilusionistas, é presa por uma série de armadilhas das quais parece ser feito o cinema de Christopher Nolan e talvez tenha sido este o motivo que o atraiu para este projeto. O questionamento “por que é que o rosto dele não fica na tela por um segundo inteiro?” me revelou rapidamente o grande truque do filme.
Na falta de um roteiro mais interessante, Nolan poderia nos compensar com deleite visual, afinal é uma história de mágicos onde o que salta aos olhos é o que encanta, mas apesar de uma direção de arte bem competente, o filme é apenas corretinho nas apresentações dos dois rivais. A reconstituição da Inglaterra vitoriana é o ponto alto do filme e é o que mais faz lamentar que as possibilidades dramáticas do cenário não tenham sido exploradas. Veja o que David Lynch fez com O Homem Elefante, por exemplo.
Além disso, há um incômodo completo na tentativa de dar consistência à dupla nas peles de atores tão limitados quanto Hugh Jackman e Christian Bale, ambos belas apostas (impossível pensar em outro Wolverine que não o primeiro; Bale estava adorável em Império do Sol, do Spielberg). Apostas que não deram certo. E há um desperdício dos coadjuvantes. Michael Caine num dos papéis mais sem graça dos últimos tempos, David Bowie completamente deslocado e Scarlett Johansson reprisando pela enésima vez sua nova faceta loira fatal, provando que ela anda topando qualquer papel.
[o grande truque ]
direção: Christopher Nolan.
roteiro: Jonathan Nolan e Christopher Nolan, baseado em livro de Christopher Priest.
elenco: Hugh Jackman, Christian Bale, Scarlett Johansson, Michael Caine, Piper Perabo, Rebecca Hall, Samantha Mahurin, David Bowie, Andy Serkis, Daniel Davis, Jim Piddock, Christopher Neame, Mark Ryan, Roger Rees, Jamie Harris.
fotografia: Wally Pfister. montagem: Lee Smith. música: David Julyan. desenho de produção: Nathan Crowley. figurinos: Joan Bergin. produção: Christopher Nolan, Aaron Ryder e Emma Thomas. site oficial: O Grande Truque. duração: 128 min. The Prestige, Estados Unidos/Inglaterra, 2006.
Resultado do ranking dos festivais da Liga dos Blogues Cinematográficos.
nas picapes: [all alone, gorillaz]
Acabo de ver O Grande Truque e me encantei com o filme. Acredito que a montagem não-linear tem sua forma de ser sim, já que o propósito do Nolan é justamente confudir o espectador, iludir como um mágico faz. O roteiro é brilhante, um dos melhores do ano, e o elenco é muito bom (cada vez gosto mais do Jackman). A única coisa que me incomodou um pouco no filme foi aquele confronto final entre os personagens, com um diálogo explicando todo o segredo (eu já tinha entendido o filme, sem precisar dessa cena). Achei desnecessário, mas ainda assim consegue se encaixar bem no filme. Um dos melhores do ano.
Bruno, bem-vindo, legal um visitante de Salvador aqui no blogue. O “Paris, Te Amo” passou aqui no Festival de Cinema Francês. Acho que ele ainda não tem previsão de entrar em circuito no Brasil. Deve ser no ano que vem.
Olá Chico. Primeira vez que comento aqui. Eu tb moro em salvador, vc saberia me dizer se há uma previsao pro filme “Paris, eu te amo” estrear aqui? Procurei na internet mas não achei nada a respeito. Ah, tomei a liberdade de linkar o seu blog, sem problemas? Abraço.
Estou destroçado com a morte do Jece Valadão. É a perda cinematográfica do ano.
Pois é.
Vaia de anônimo não vale.
Eu acho que compreendi uma boa parcela da totalidade desta obra, Anônimo. Eu acho que ela lida com conceitos abobalhados de uma maneira mais abobalhada ainda. E com o um mau gosto das profundezas do universo.