Acabei de ver O Jardineiro Fiel e estou francamente desapontado pelo fato de ele ser um filme bom, bom mesmo. Seria muito mais fácil falar mal dele. Os argumentos seriam tantos: 1) Meirelles foi feito para Hollywood, o filme é muito hollywoodiano; 2) se apóia em paisagens artificialmente belíssimas; 3) é um filme ingênuo, com objetivos ingênuos, algumas resoluções de roteiro ingênuas, interpretações ingênuas; 4) Meirelles compra um discurso que o faz parecer muito mais politizado e engajado do que o Walter Salles, por exemplo, e promete ser uma catapulta para sua carreira internacional; 5) tem aquela coisa “étnica” que deixa os pseudo-alguma coisa muito felizes e confortados pela denúncia; etc.
Mas a) eu nunca tive nada contra Hollywood. Por sinal, lá foram feitos muitos dos melhores filmes da minha vida; b) as paisagens artificialmente belíssimas já eram naturalmente belíssimas então, pouca coisa mudou; c) eu adoro e defendo a ingenuidade; d) não acho que seja justo comparar os dois diretores nem julgar o engajamento de cada um; e) a denúncia pela denúncia seria chata de qualquer maneira, mas o filme é muito bem construído como thriller e se resolve muito bem (ainda que ingenuamente bem).
Além do mais, o Ralph Fiennes e a Rachel Weisz são um belo casal e é interessantíssimo que eles consigam despertar isso quando a relação deles é construída aos nossos olhos em flashbacks que muitas vezes são perversos para a bela moça. Talvez por isso a cena de que eu mais gostei tenha sido aquela em que Fiennes vê o vídeo que Weisz fez dele. Puro alívio. Puro romantismo.
O Jardineiro Fiel ½
[The Constant Gardener, Fernando Meirelles, 2005]
Hahahaha, vou repetir minha resposta lá então:
Chico, concordo com tudo, com exceção do adjetivo “ingênuo”. Acho que disso o filme não tem nada.
Mas deixo para o Tiago Superoito explicar, ele tem um ponto-de-vista mais bem resolvido do que o meu sobre o filme.
Tiago?
Chico,
eu também gostei. tem algumas ressalvas, mas a fotografia é linda, a ingenuidade é pertinente, e cumpre bem o papel.
Depois te conto o que a velhinha que tava do meu lado falava na sessão de “Era uma Vez em Tóquio”.
Acabei de ver o filme. Estava mesmo pensando que Meirelles ficou bastante acima do tom costumeiro do cinema “hollywoodiano” (se compararmos com os trailers que passaram antes, tsc, tsc), quando, na saída, uma velhinha comentou para a outra: “Que chatice! Eu só entendi alguma coisa porque li o livro!”.
É engraçado como esta palavra, Hollywood, deixou de significar um espaço geográfico bem delimitado para não apenas abarcar quase todo o cinema americano, mas todo o cinema que tem como parâmetro o “cinemão” comercial. Em tese, o filme do Meirelles é muito menos “hollywoodiano” do que o do Salles (ainda não vi nenhum dos dois), por se tratar de uma produção independente britânica, mas, pelo visto, na prática a coisa é outra…
Tiago, concordo com tudo o que vc disse, mas ainda acho que algumas soluções são bem ingênuas, sim: a cena final, na igreja, eu acho bem ingênua, sim, por exemplo. A idéia de amor eterno, pra sempre, de reencontro além da vida também acho que seja. E ainda acho o perfil da personagem da Rachel Weisz bastante ingênuo.
Diego, não vou não.
Eu não acredito que o termo hollywoodiano caiba no filme, mas ok. Virou uma coisa subjetiva mesmo.
Agora, ingenuo eu acho que ele não é não. O filme seria ingênuo se fosse assim: O personagem do Fiennes luta contra as empresas farmacêuticas, vence a batalha de uma forma ou de outra e impõe a lição de que há ainda espaço para o idealismo no mundo etc. Ele seria “gente que faz”, ele provocaria alguma mudança significativa no rumo das coisas, ele venceria, ele seria um mártir. E por aí seria.
O que acho interessante no filme é que ele alterna duas “camadas”. Tem essa história bem particular da luta de Fiennes contra uma empresa farmacêutica específica (e aí o fim do filme vc sabe como é) e uma outra história maior sobre como os países desenvolvidos fecham os olhos para os países subdesenvolvidos. Essa história maior não é resolvida pelo diretor. Ele não tem solução para ela, e o personagem principal é, de certa forma, tragado por isso. Ele sai numa viagem para descobrir uma conspiração específica e chega à conclusão de que não descobriu quase nada, de que o mundo é complicado, as coisas são complexas a até mesmo o idealismo está um pouco em xeque pq só consegue resolver problemas pontuais e não dá conta de abraçar a tragédia maior, que engole todo mundo.
Não vejo ingenuidade nisso.
O ranking de setembro está online no blog da liga.
Gostei de tudo, sobretudo a edição do filme que achei espetacular! Se tiver chance de votar no Alfred, já tenho minha cena do ano para votar: Aquela do menino com o filhote de cachorro vendo o avião da ONU partir do Sudão após o ataque dos “cavaleiros bárbaros”
Diego, eu nem iria escrever agora, mas quando o tamanho que ficou o texto do comment no seu log, resolvi postar. Li o que o Tiago escreveu lá tb.
Quando eu falo ingênuo, falo desta necessidade de mostrar a verdade, de se fazer importante, de ir de encontro ao “mau e poderoso”. Não acho que ingênuo seja ruim, pelo contrário.