O trabalho em O Vencedor promoveu uma guinada na trajetória de David O. Russell. O filme sobre um lutador de boxe que tenta recuperar sua carreira levou o diretor para um modelo de cinema mais tradicional, bem diferente de seus primeiros longas, que apostavam em variações de fórmulas e vícios indie. O resultado excepcional remete a alguns dos grandes melodramas americanos. Em O Lado Bom da Vida, o cineasta tenta algo parecido. A estrutura e o desfecho do filme são de comédia romântica, outro gênero estabelecido, com regras próprias, mas que, nas mãos de O. Russell, desta vez se transforma, com personagens mentalmente desequilibrados sempre no modo bomba relógio.
Boa parte do mérito do filme, baseado no livro de Matthew Quick, se deve aos desempenhos do casal principal. Bradley Cooper, astro de Se Beber Não Case e de um punhado de filmes de riso fácil, revela um talento inesperado. Nos primeiros 20 ou 30 minutos de longa, Cooper estrela uma série de cenas em que a instabilidade emocional do personagem trafega da confusão à loucura até chegar num momento de violência física fortíssimo em que o ator impressiona pela segurança e naturalidade, monopolizando as atenções mesmo contracenando com o veterano Robert De Niro, num papel que devia há tempos. O protagonista de O Lado Bom da Vida é um homem quimicamente incapaz de se controlar.
Essa “abertura prolongada” do filme já informa ao espectador que os personagens do filme são bem mais complexos do que em outras comédias românticas.
A estrela de Cooper só empresta o brilho quando Jennifer Lawrence entra em cena. O filme literalmente muda de dono. Jennifer domina cada segundo em que aparece na tela, com sua perfomance agressiva para uma mulher com tendências ninfomaníacas que perdeu o marido de maneira abrupta. A mulher engole cada cena. O choque entre os dois é inevitável e das faíscas entre os personagens surge uma química poderosa entre os atores. Como nas melhores comédias românticas, o espectador torce pelo casal. Um casal falho, problemático, improvável. O. Russell segue as regras do gênero de maneira tortuosa, mas nunca se afasta dos elementos fundamentais deste tipo de filme.
A verborragia do longa ajuda a ilustrar o caos em que vivem os personagens. Caos que une e faz com que eles se identifiquem, se apaixonem, enxerguem um no outro uma possibilidade de sossego. O diretor acompanha essa jornada com um roteiro que usa o humor na medida exata para um filme com um tema delicado. O Lado Bom da Vida trafega com naturalidade por esse terreno, retrabalhando estereótipos, remodelando fórmulas, oferecendo um algo mais que faz com que uma discussão na porta do cinema ou chegar ao fim de um livro ganhem contornos tão incertos quanto as perspectivas de alguém que resolveu recomeçar a vida.
O Lado Bom da Vida ½
[Silver Linings Playbook, David O. Russell, 2012]
Adoro a frase da Jennifer….Se sou eu lendo os sinais….
adorei o filme, e queria muito aquela ultima frase que ele diz no filme. alguem ai sabe por favor?
Vê se te ajuda, Marina:
Every cloud has a silver lining means that you should never feel hopeless because difficult times always lead to better days ,every difficult situation has a bright side.
Difficult times are like dark clouds that pass overhead and block the sun. When we look more closely at the edges of every cloud we can see the sun shining there like a silver lining.
Não costumo ler nada sobre o filme antes de assisti-lo.
Mas leio bastante depois.
Gosto de confrontar opiniões e até descobrir coisas q deixei passar.
Enfim. Neste caso, temos leituras bem parecidas do filme e do desempenho dos atores 😉
Adorei super a sua resenha. E seu texto está incrível!
Beijo,
Val
Valeu, Val!
Muito bom, o filme descreve a trajetória dos humanos em alçancar sua ‘plenitude’ e contornando os padrões familiares, expondo as crenças e preconceitos,e o ao amor verdadeiro.
E de maneira simples.
Eu amei o filme também. Não conhecia o diretor, mas concordo com a sua resenha. Oque me deixou mais sensível foi como o diretor trata do amor. Que vai de algo idealizado, impossível, inalcançável, para algo tangível, possível, que incita transformação em ambos. Show de bola.
Concordo, Jan. Essa transição é bem delicada.
E você já deve ter visto “Três Reis”.
Eu adorei! Um filme sobre amores possíveis, sobre o que são realmente os amores. Cheios de obstáculos e ternura.
Descreveu em uma frase o que eu tentei em alguns parágrafos!