Em O Novo Mundo, há pelo menos uma dezena de momentos em que as personagens centrais assumem uma condição muito próxima da de narradores, quando, em off, se afastam da ação. Mas quando se espera a tradicional postura de análise do fato, Malick entra em cena com uma proposta diferente. As intervenções são íntimas, com os protagonistas em momento de auto-reflexão, num tom mais do que pessoal, metafísico, algo que permeia o cinema do diretor. Há belíssimas passagens que, se não contribuem necessariamente para o contexto da história, abrem novos prismas de conversação com o público.
E entre uma cena e outra, Malick resolve falar sobre a América, aliás, sobre colonialismo. Aliás, sobre algo anterior, mais universal, que eu não saberia classificar muito bem. Sua Pocahontas nunca nomeada é o país que se encanta com a chegada do novo, do diferente. O diretor se afasta do maniqueísmo que seria condenar as personagens a estereótipos como mocinhos e vilões. Não se trata da inocência perdida, vai muito além. Malick investiga o processo da transformação e o quanto ele tem de conseqüência natural dos eventos. E como esse processo se dá numa velocidade quase imperceptível, bem próxima da velocidade do cinema do cineasta.
Com tempo para desenvolver sua história, Malick se dedica à cada imagem, à cada significado oculto em cada enquadramento, em cada movimento de câmera. Ele troca sua protagonista de posição num movimento tão calculado quanto suave. As palavras abrem caminhos para novos hábitos, novas roupas, uma nova maneira de organizar o pensamento. O amor que surge como agente catalisador desta transformação aos poucos dá lugar à acomodação com os novos costumes. A indiazinha aceita seu novo papel sem mágoa ou ressentimento. Ela é seu povo que se deixa ser seduzido. Ela é sua terra, que se entrega com tranqüilidade. É o curso da mundo que se constrói pela justaposição de culturas, pela sobreposição de histórias, mesmo que uma termine matando a outra.
O Novo Mundo
[The New World, Terrence Malick, 2005]
Meu caro: Não costumo fazer esse tipo de convite, mas caso você não conheça as listas dos filmes preferidos de Tarantino, Jarmusch, Angelopoulos e Loach, extraídas da Sight&Sound, o Balaio de hoje as publica. De resto, só no próximo final de semana poderei ver ‘O novo mundo’. Um abraço.
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Esperei e já chegaram, Chico. ;D
Chico…junto ao filme do Spike Lee, coloco este como um dos meus favortos do ano….
Amo os filmes do Malick e achei este muito semelhante nos dialogos internos e planos de contemplacao como tinha no Alem da linha Vermelha…
Obra prima e dou 5 estrelas facil facil!
Tive a impressão de que ele filma uma quantidade gigantesca de cobertura e depois fica que nem louco para editar, como o George Stevens, confere?
ok.. meu olho de publicitário ignorou total o cartaz deste filme. mas depois do teu texto, me animei a assisti-lo!
Eu ia comentar sobre “Contracorrente”, mas achei que não cabia no texto. Por isso, esperei alguém levantar o tema nos comentários. O Green bebe fundo na fonte do cinema do Malick, que não por coincidência é produtor do filme. Parece que estamos no começo da filmografia do cineasta-inspiração.
Me parece que há uma preocupação do Malick em discutir temas cada vez mais “importantes”, mais grandiosos. O que eu acho que é impressionante é como ele aborda estes temas com visões tão pessoais, com impactos tão particulares sobre as personagens. Acho que o que conta para ele é o efeito da história – leia-se com H maiúsculo se quiser – nas pessoas.
Mas é interessante ver como os temas dos filmes dele ficaram mais ambiciosos com o tempo. Eu tava vendo “Cinzas no paraíso” dia desses… É praticamente o mesmo universo que o David Gordon Green pega, aquelas histórias de vida meio interioranas. Quero ver o que ele vai fazer em seguida…
Eu também, mas acho que esse foi o que mais me envolveu.
Acho que todos os filmes dele estão mais ou menos no mesmo nível, na verdade.