A estreia de Gregório Graziosi em longas-metragens parte de um belo princípio: incorporar a cidade a sua forma e a sua narrativa. São Paulo e seu subsolo mais profundo parecem ser os verdadeiros protagonistas de Obra, um filme que assume a arquitetura, profissão do personagem de Irandhir Santos, não apenas para a plástica, mas para a própria estrutura do longa. Rodado num preto-e-branco que ora impressiona pelos enquadramentos, ora parece artificializar demais algumas cenas, o filme trabalha com o conceito de arquitetura em vários níveis. Ousado, mas nem sempre funciona. Primeiro temos um homem que encontra na base de uma obra que comanda num terreno de sua família rica um segredo que muda a maneira como ele enxerga seus ancestrais.
Este mesmo homem sofre com uma hérnia de disco, problema que se agrava à medida em que escava o passado de seus parentes. Graziosi utiliza esses trocadilhos não ditos de uma forma bem interessante para amarrar a proposta de seu longa, mas o filme peca por embutir demais a frieza e a assepsia desse mesmo conceito em sua espinha dorsal. No entanto, o problema maior talvez nem seja este, mas o casting de Irandhir Santos. O ator é um dos melhores que surgiram no Brasil nos últimos anos, mas fica difícil acreditar nele como um paulistano coxinha quando não se percebe o mínimo esforço para transformar seu sotaque. O estranhamento pode até ter sido proposital, mas não ajuda a sustentar essa obra.
Obra
[Obra, Gregório Graziosi, 2014]