O filme que “deveria ser visto num templo” saiu como vencedor da festa do Globo de Ouro deste ano. O Regresso, de Alejandro Gonzalez Iñarritu, que fez a declaração entre aspas da frase anterior, ganhou os prêmios de melhor filme e ator dramáticos (Leonardo DiCaprio), além de levar também na categoria de melhor diretor. Com essa escolha, o Globo de Ouro segue na contramão dos outros prêmios dos críticos, que preferiram Spotlight, Mad Max: Estrada da Fúria ou Carol, os três indicados aqui; os três completamente esnobados aqui. E se afasta mais da condição que sempre alimentou, a de prévia do Oscar.
É bom lembrar que o Globo de Ouro existe desde 1951 e que essas mais de seis décadas de história geram demandas. Então, em vez de refletir a temporada, os votantes do prêmio podem querem mais é corrigir injustiças e Iñarritu tinha perdido o prêmio no ano passado por Birdman (para Richard Linklater, de Boyhood). Além disso, seu filme, que concorrida na categoria de comédia ou musical, onde era favorito, cedeu lugar para O Grande Hotel Budapeste. Então, numa temporada de prêmios em que os frontrunners mudam a cada semana, num ano particularmente confuso, eles podem ter usado o fator “conjunto da obra” para escolher seu favorito. Mas essa não parece ser a única razão.
Vejamos: Leonardo DiCaprio, Brie Larson, Matt Damon, Jennifer Lawrence, Kate Winslet. O Globo de Ouro deste ano foi particularmente alto, loiro e bonito. Kate Winslet não é alta? Duvido que você já a tenha encontrado sem salto. Bem, não que os prêmios tenham sido esdrúxulos. DiCaprio e Larson eram os favoritos em suas categorias e Damon e Lawrence dividiam o protagonismo com outros concorrentes, mas estavam muito bem cotados. Mas o que parece contar bastante para o Globo de Ouro é ter estrelas no seu palco para vender seu programa de TV. A primeira prova disso é a manutenção das categorias de filme, ator e atriz divididas entre drama e comédia ou musical, o que cria aberrações como considerar Perdido em Marte uma comédia. Desta forma, eles dobram o número de indicados e enchem a festa de estrelas.
DiCaprio venceu Bryan Cranston, que agora se firma como ator de cinema, e Michael Fassbender, que perdeu gás porque Steve Jobs foi mal de bilheteria, embora o Globo de Ouro tenha preferido premiar o roteiro do filme de Danny Boyle, criticado por aí, em vez dos favoritos Spotlight e A Grande Aposta, que saíram de mãos abanando, e elegeram Kate Winslet, que ganha seu terceiro prêmio de cinema (fora mais um de TV) na festa da imprensa estrangeira. Desbancou as favoritas Jennifer Jason Leigh, Jane Fonda e Alicia Vikander. Só Helen Mirren estava tão desacreditada quanto ela. Por outro lado, Jennifer Lawrence derrubou a amiga Amy Schumer, uma verdadeira comediante, e as veteranas Maggie Smith e Lily Tomlin, que conseguiu ser esnobada duplamente nesta noite já que concorria como atriz de TV.
Matt Damon saiu na frente dos dois atores de A Grande Aposta (Christian Bale e Steve Carrell) e se firma como mais forte candidato à última vaga no Oscar de melhor ator (já que as de DiCaprio, Fassbender, Cranston e Eddie Redmayne parecem asseguradas). Curiosamente, era a maior estrela na disputa e estava no filme mais popular. Brie Larson atendia a outra demanda do Globo de Ouro: apostar em novatas. Bateu Saoirse Ronan, Cate Blanchett, Rooney Mara e novamente Vikander, que também foi duplamente esquecida. Em melhor canção, seguindo a tendência de premiar os mais famosos, nada de Brian Wilson ou Whiz Kalifa, a aposta foi Sam Smith com o tema meia-boca do novo 007. Se a gente lembrar que o U2 ganhou há dois anos por uma música anódina – e que Madonna e Cher também levaram as suas por canções que o Oscar esnobou – faz sentido.
Pelo menos tiveram a decência de premiar Ennio Morricone, que já tinha dois Globos (ao contrário do Oscar, que o indicou sem prêmio cinco vezes), pela trilha de Os Oito Odiados. Nas categorias à parte, ganharam os favoritos O Filho de Saul (filme estrangeiro) e Divertida Mente (animação). O que estes resultados fazem para a corrida ao Oscar? Muito pouco. DiCaprio reforçou seu favoritismo, mas com a ascensão de Matt Damon, pode ver seu prêmio, dado como certo por muita gente, ameaçado. Larson segue à frente das outras candidatas e tem a seu favor o retrospecto de 6 das 10 últimas vencedoras do Oscar de atriz terem repetido o Globo de Ouro de atriz dramática (outras três vieram de atriz em comédia e uma, ora vejam só, de atriz coadjuvante).
Kate Winslet ficou mais visível, mas a boa vontade com Steve Jobs pode não ser tanta assim. O SAG e o Bafta devem dar uma visão mais clara das coisas. Tomara que pelo menos para empurrar a candidatura de Sylvester Stallone sirva o Globo de Ouro. A vitória de Rocky Balboa como coadjuvante foi aplaudida de pé e Creed merece essa indicação. Como não foi lembrado pelo SAG e pelo Bafta, as coisas ficam mais difíceis, mas nosso lutador favorito já deu tanto a volta por cima que não dá pra descartar o homem. Já O Regresso ganha mais uns pontos, mas, nesta disputa bagunçada de melhor filme, o vencedor do ano anterior deve ser a última coisa em que a Academia vai apostar. Além do mais, ganhou o Globo de Ouro, mas não entrou no Top 10 do American Film Institute.
Carol foi o filme mais indicado Globo de Ouro (saiu sem nada), ao Bafta, mas não é um dos dez melhores do ano do Sindicato dos Produtores. Spotlight fez sucesso com os críticos, mas perdeu a indicação ao prêmio dos editores e não teve diretor indicado ao Bafta. Nos Globos, perdeu tudo. Mad Max: Estrada da Fúria está em todas as listas de melhores do ano, mas não conseguiu aparecer nas duas principais categorias do Bafta. Perdido em Marte ganhou o Globo de Ouro de comédia, mas nem foi indicado ao prêmio dos ingleses, compatriotas de Ridley Scott. O Quarto de Jack perdeu indicação ao PGA. Resta quem? A Grande Aposta? Ou a Academia vai arrumar alguma desculpa para escolher um grande vencedor. Se for, ainda é segredo. E o Globo de Ouro não ajudou a gente a descobrir.
Fale mais sobre a teoria de premiar os altos. Será por isso que o Peter Dinklage, de Game of Thrones, não foi sequer indicado?
Se DiCaprio não levar o Oscar neste ano, não imagino quando poderá levar (embora nunca lhe falte grandes papéis). Não vi o filme, mas me parece um papel talhado para conquistar a estatueta. E, mais ainda, ele não parece ter concorrentes com chances à altura de roubar seu prêmio. Deve levar até para tirar essa nhaca de que nunca leva o Oscar.
Stallone deve ser indicado, mesmo porque seria quase uma burrice da Academia se esnobasse o Sly e não tê-lo na festa. Mas se seguirem o SAG, a chance estará desperdiçada.
Acho que está muito confuso saber quem tá na frente pra melhor filme, acredito que as próximas premiações vão dar uma clareada ai, quanto ao Oscar do Di Caprio, acredito que até pra acabar logo com essa de que ele nunca ganha. ele leva esse ano.
O Globo de Ouro sempre força a barra pra colocar filmes como comédia/musical, mas acho que “The Martian” se enquadra nessa categoria, pois é todo pontuado por piadinhas. Não acho q seja um grande filme, apenas entretenimento mesmo!
Pior será se tivermos que aturar Iñàrritu mais uma vez. Depois do belo trabalho técnico de montagem em Birdman, porém com um roteiro pedante e uma direção preocupada quase apenas com a técnica. Iñàrritu se mostra, mais uma vez, um diretor que conta uma história para mostrar a técnica, não se utilizando da técnica para contar a história.
Acho que Sylvester Stallone ainda ganha o Oscar, no SAG o filme chegou um pouco atrasado e muitos votantes não viram e no BAFTA não era elegível já que ” Creed” será lançado em 17 de fevereiro no Reino Unido, passando o prazo Bafta (14 de fevereiro). Se for indicado acho que leva! Foi o mais ovacionado da noite e não tem uma outra figura tão marcante na categoria como os vilões de outros anos que a academia ama ou um veterano em atraso.
Chico , essa temporada está imprevisível. Mas no Oscar, ainda acho que Spotlight ainda está na frente. A favor dele está sua forte temática, aspecto muito considerado pela academia.
Sobre Kate Winslet, acompanho todas as premiações e voc~e deveria se lembrar de um fato: de todas as indicadas ao Globo de coadjuvante, ela é a única nomeada em todas as premiações. Fonda, por exemplo, que você aponta como uma das favoritas ( e não sei a razão) sequer chegou ao SAG e ao BAFTA. Vikander e Jason Leigh eram de fato as favoritas.
Por outro lado, acho difícil Leonardo não levar este ano. E a vitória da Lawrence está sendo considerada uma baita bobagem, visto ela é um caso de miscast e por isso seu trabalho não é lá grande coisa em JOY.
Oi Bruno, “Spotlight” tem caído bastante. Queria muito que ele tivesse ganho aqui. Kate é uma alternativa sempre possível, verdade. Não acho a Jane Fonda favorita ao Oscar, mas acho que tinha chances de ganhar o Globo de Ouro porque eles adoram estrelas e seria uma comoção (tipo Sly, só que num nível mais intelectual). Para o Oscar ela ainda um azarão – e para a indicação, não prêmio. Também acho que o DiCaprio é o favorito, mas eles alimentam tanto essa coisa de que a Academia não gosta dele que a gente termina se contaminando.