O maior problema de um filme em episódios sempre será o desequilíbrio entre eles, mas um final meio “de produtor” até serve para amarrar bem os 18 curtas de cinco minutos que compõem este longa-metragem. O filme que abre Paris, Te Amo é o sem muita graça de Bruno Podalydès, que parecia contar que sua mistura de humor negro e melancolia funcionasse melhor. Gurinder Chadha faz um interessante continho sobre integração, que ao mesmo tempo em que combina perfeitamente com seu cinema globalizado, tem uma cena final bonita, uma ode à Paris de todos. Gus Van Sant não estava nem aí para a cidade (foi o único que fez isso e se deu bem), fez um episódio simples, bem humorado e muito bem resolvido, com direito a Marianne Faithful no elenco.
O filme dos irmãos Coen parece extremamente com seu cinema, mas o humor quase pastelão, bem exagerado, atrapalha um pouco. Alfonso Cuarón, numa só tomada, aposta demais no pequeno segredinho do roteiro que tem nas mãos. E esse segredinho não é lá estas coisas, apesar de o episódio casar bem com o resto. O único completamente estranho aos demais é o de Vicenzo Natali, tentativa de homeangear a Paris fantástica, bem fraquinho. Wes Craven, que faz uma ponta neste episódio certeiro, se sai muito melhor como diretor, na visita de um casal ao túmulo de Oscar Wilde. Muito bom.
Walter Salles e Daniela Thomas fazem parte da cota crítica social. O episódio é fechadinho, mas não está à vontade entre os outros. Ruim mesmo é o de Olivier Schimitz, que se mete a mostrar como o estrangeiro pode ser devorado pela cidade com excesso de invenção. Tom Tykwer utiliza algumas de suas marcas num episódio bastante clichê, mas simpático. Richard La Gravenese aposta na inteligência de seu roteiro e se dá mal, mas tem Fanny Ardant. E Nobuhiro Suwa desperdiça Juliette Binoche num episódio inócuo, que não casa com filme e difícil de comprar.
Isabel Coixet cometeu um dos melhores curtas, um filme narrado em off com um roteiro belíssmo, com Sergio Castellitto redescobrindo como amar. Olivier Assayas conseguiu um belo resultado, embora não tão bom quanto o da espanhola, com uma história simples e bem interpretada. A dupla Frédéric Auburtin e Gérard Depardieu não tem um grande texto nas mãos, mas o valoriza com o encontro de Ben Gazzara e Gena Rowlands numa mesa de bar.
Christopher Doyle erra feio ao tentar se valer uma fantasia que não sabe dominar. O lúdico funciona muito bem no curta de Sylvain Chomet, que resgata um clássico francês: o mímico. E ainda faz uma curtinha, mas excelente crítica aos turistas norte-americanos. Mas, e talvez por isso mesmo ele tenha sido deixado por último, é de Alexander Payne o melhor dos episódios. O melhor de longe, talvez uma pequenina obra-prima. A princípio, com um carta sendo lida em off, Payne não apenas destrói a ignorância norte-americana, como alfineta a visão pasteurizada e publicitária da cidade, para, em seguida, numa transição digna dos grandes escritores, fazer sua protagonista descobrir um certo porquê da maneira mais linda possível.
Paris, Te Amo
[Paris, Je T’Aime, 2012]
Montmartre
direção: Bruno Podalydès.
Quais de Seine
direção: Gurinder Chadha.
Le Marais
direção: Gus Van Sant.
Tuileries
direção: Joel & Ethan Coen.
Loin du 16e
direção: Walter Salles & Daniela Thomas.
Porte de Choisy
direção: Christopher Doyle.
Bastille
direção: Isabel Coixet.
Place de Victoires
direção: Nobuhiro Suwa.
Tour Eiffel
direção: Sylvain Chomet.
Parc Monceau
direção: Alfonso Cuarón.
Quartier des Enfants Rouges
direção: Olivier Assayas.
Place de Fêtes
direção: Olivier Schmitz.
Pigalle
direção: Richard La Gravenese.
Quartier de la Madeleine
direção: Vicenzo Natali.
Père-Lachase
direção: Wes Craven.
Faubourg Saint-Denis
direção: Tom Tykwer.
Quartier Latin
direção: Frédéric Auburtin & Gérard Depardieu.
14e Arrondissement
direção: Alexander Payne.
Oi Felipe, quanto tempo! Eu acho o curta deles correto, mas não consegui me envolver.
Oi, Chico. O trecho do Walter Salles / Daniela Thomas foi o que mais me tocou. Uma aula de delicadeza, um banho de humanidade.
O filme do Payne é um tapa na cara, um filme pra fazer vc pensar em tudo o que vc só olhou uma vez só.
passei por uma verdadeira epopéia para vê-lo no Festival Valisére aqui em Recife no final do ano passado. Estou louco para revê-lo. Gostei mais do segundo curta, Quais de Seine, e do 14th arrondisement
E o do Payne? Uma obra-prima!
Eu adoro o filme, mas claro q não todos os curtas… mas gosto da maioria e amo vários como Batille e Pigalle!!
abraços