Fale agora ou cale-se para sempre

A primeira impressão foi boa: comédia engraçada, piadas inteligentes, bem sacadas, atores que, se não são grandes, são bastante simpáticos. Um filme provavelmente muito fácil de se gostar. E gostaram. A obesa bilheteria de Penetras Bons de Bico deve rapidamente ultrapassar a do filme do homem-morcego e virar a terceira maior do ano, perdendo apenas para uma dupla infalível: Steven Spielberg e George Lucas. Bem, mas a primeira impressão nem sempre é a que fica e logo depois dos primeiros trinta minutos (ou pouco antes deles?), o filme de David Dobkin revela sua falta de criatividade. A repetição de gags anciãs e tom abobalhado de filme de macho, feito por macho e para macho, tudo naquele clima evasivo de “eu sou um grande brincalhão”, atrapalham bastante o bom ritmo que o longa vinha emplacando.

A patetada parece justificar o surgimento de personagens burocráticos e a reimaginação de situações dignas de Porky’s (1981), numa versão mais light, mais família. Sim, é um filme para ver em família. Famílias daquelas em que “eu adoro comédia, vou ao cinema para me divertir” é a única frase possível de se ouvir. O clã de novos humoristas com velhas idéias, comandado por Ben Stiller e o próprio Owen Wilson, me parece muitíssimo sem graça. E este filme, mais um produto do grupo, não faz muito para mudar essa percepção. E ainda tenta camuflar a nesga de criatividade com um tom melancólico, onde a trilha etérea do habitué de Alexander Payne, Rolfe Kent, é o BG do romance que surge e faz nosso protagonista rever seus conceitos.

Há algumas boas risadas, mas elas são bem poucas. Vince Vaughn tem uma personagem bem mais interessante do que a de Wilson, mas peca pelo excesso de afetação, que deixa seu coadjuvante-contraponto-cômico chato e pouco crível. O colírio Rachel MacAdams é um raio de sol no filme: está linda e apaixonante, mas nem toda sua fofura desconta os papéis entregues a Jane Seymour e Christopher Walken, que consegue fazer um filme que o desmoraliza a cada dois anos. Mas não há nada que seja mais constrangedor do que a interpretação (é, dizem que foi uma) de Will Ferrell, que não estava mal em Melinda e Melinda (Woody Allen, 2004). Seu texto e toda sua “criação gestual” são tão ridículos quanto a tentativa tosca de qualquer ator de A Praça é Nossa de fazer rir.

Penetras Bons de Bico
Wedding Crashers, Estados Unidos, 2005.
Direção: David Dobkin.
Roteiro: Steve Faber e Bob Fisher.
Elenco: Owen Wilson, Vince Vaughn, Rachel McAdams, Isla Fisher, Stephanie Nevin, Christopher Walken, Jane Seymour, Ellen Albertini Dow, Jennifer Alden, Summer Altice, Betsy Ames,Camille Anderson, Diora Baird, Ivana Bozilovic, Carson Elrod, Will Ferrell.
Fotografia: Julio Macat. Montagem: Mark Livolsi. Direção de Arte: Barry Robinson. Música: Rolfe Kent. Figurinos: Johnetta Boone e Denise Wingate. Produção: Peter Abrams, Robert L. Levy e Andrew Panay. Site Oficial: Penetras Bons de Bico. Duração: 119 min.

rodapé: quais os cinco filmes que você acha que vão concorrer ao Alfred 2005? Enquete no pop-up que abre junto com este blogue.

nas picapes: Red Rain, The White Stripes.

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