Resolvi me aventurar por algumas das pérolas pop que o cinema nos presenteou na década de 1970. A primeira leva está aqui:
A Casa da Noite Eterna
The Legend of Hell House, John Hough, 1973
Este é possivelmente um dos melhores filmes de casa assombrada já feitos. Richard Matheson, mestre do fantástico, adaptou sua própria novela e John Hough soube criar cenas realmente assustadoras a partir dela, sobretudo na primeira metade do filme, como o ataque ao físico na sala de jantar e todas as cenas envolvendo a personagem de Pamela Franklin, uma jovem médium amalucada, no quarto. Por sinal, a própria escolha de Pamela deixa clara a intenção dos produtores: ela é a menina da mansão assombrada de Os Inocentes (1961), um dos maiores filmes do gênero. Pamela e Roddy McDowall, um dos atores mais legais dos anos 70, são os destaques do elenco. O filme perde o ritmo no final com muita explicação, mas até lá faz o que todo bom filme de terror deveria fazer: recicla nosso medo do desconhecido e assusta para valer.
O Despertar dos Mortos
Dawn of the Dead, George A. Romero, 1978
Não dá pra achar este filme menos do que genial. Se A Noite dos Mortos-Vivos (1968), indicava que Romero tinha muito mais a dizer na pele dos zumbis do que se supõe que um filme de terror esteja interessado, esta sequência radizaliza nossa experiência. Se de um lado temos a aventura de sobrevivência de quatro sobreviventes (da epidemia de mortos-vivos) trancados num shopping, do outro temos um filme interessado em questionar em uma série de camadas o consumismo, o capitalismo e até nossas formas de organização social com uma ironia refinada e voraz.
O Espírito da Colmeia
El Espirito de la Colmena, Victor Erice, 1973
O belíssimo filme de Victor Erice é não apenas um espetáculo visual (fotografado por sinal por um cinegrafista que começava a perder a visão), mas também é um impressionante e elaborado inventário sobre a solidão de uma família. Em nenhuma cena, os quatro personagens – pai, mãe e as duas filhas – aparecem juntos. A única sequência em que isso se ensaia, na mesa do café da manhã, os quatros são enclausurados pela montagem, que condena cada um a um quadro diferente. É a cena em que estão mais próximos e mais distantes. Além disso, Erice flerta com o fantástico (e com a história da Espanha, com o Franquismo) ao evocar o Frankenstein de James Whale para assombrar a pequena aldeia onde o filme se passa. A molequinha Ana Torrent, graciosa, tem uma das maiores perdormances infantis que o cinema já viu.
Fuga do Século 23
Logan’s Run, Michael Anderson, 1976
Nada como uma revisão para destruir suas memórias. Lembro que eu vi este filme pela primeira vez na extinta TV Manchete, numa tarde de sábado. E havia adorado. A visão do futuro que o longa apresenta parecia assustadoramente real, mas hoje ela é mais como um rascunho dos futuros mais palpáveis de Aldous Huxley ou William Gibson. Apesar de ainda ser uma experiência bastante divertida, o filme peca bastante na direção de arte: há vários acertos que lhe valeram até uma indicação ao Oscar, mas boa parte dos cenários e os figurinos à moda grega tiram muito da credibilidade do longa.
No Mundo de 2020
Soylent Green, Richard Fleischer, 1973
Menos de dez anos depois de ter ganho o Oscar por Ben-Hur (1959), Charlton Heston virou o rei da ficção-científica B. Depois de O Planeta do Macacos (1968) e A Última Esperança da Terra (1971), ambos deliciosos, ele estrelou esse No Mundo de 2020 que traz um futuro mais palpável, mas que carece de uma trama que sustente melhor as previsões/denúncias que o filme traz. A cena do levante popular, com pessoas sendo retiradas das ruas com escavadeiras, é a mais impressionante. O destaque maior é para o último papel de Edward G. Robinson, que já estava ficando surdo.
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