O tema parece desgastado, mas o filme de estreia da diretora Rama Buhrstein dá fôlego novo para os rituais e tradições de judeus ortodoxos que o cinema de Israel desvenda há tantos anos. Em menos de noventa minutos, a cineasta conta a história de uma família e faz uma reflexão sobre o peso da herança religiosa no país dos tempos atuais. O conflito de Preenchendo o Vazio é simples: diante da morte da filha mais velha, que havia acabado de dar à luz, sua família quer forçar Shira, a irmã mais nova, a assumir seu lugar no casamento e na educação do neto.
Buhrstein evita o ranço: nunca julga seus personagens, procura entedê-los. Shira, vivida pela ótima Hadas Yaron, tem nas mãos a responsabilidade por manter seus parentes unidos. Com a morte da esposa, seu cunhado resolve se casar com outra mulher e se mudar para a Bélgica. A diretora mostra que esta possibilidade, mais do que pese a distância, significa o esfacelamento da família e o fracasso de um projeto para os pais de Shira. O assunto vai parar na mesa de jantar e até em reuniões com rabinos. Em diálogos fortes e longos momentos de silêncio, Buhrstein consegue dar o peso do que é jogado nas mãos da personagem.
Ao mesmo em que é sério, o filme nunca é sisudo. E tem um trabalho espetacular de fotografia que valoriza os cenários, praticamente todos internos, com agilidade de câmera e com uma luz bonita. Este tratamento não alivia as escolhas de Shira, pelo contrário, mas evita que o maniqueísmo corrompa o roteiro do filme. Mesmo que sofra com algum didatismo e que transporte para sua estrutura a rigidez do universo que retrata, Preenchendo o Vazio surpreende com seu frescor.
Preenchendo o Vazio ½
[Lemale et Ha’halal, Rama Buhrstein, 2012]
Maravilhoso, sen palavras…