Behind the Candelabra

A vitória no Emmy – ou as vitórias, já que o filme ganhou em 11 categorias – devolvem a Behind the Candelabra um pouco do brilho perdido pelo longa, recusado pelos principais estúdios de Hollywood. E brilho é a matéria-prima não apenas do filme, mas do próprio personagem que ele retrata. Steven Soderbergh não poupou lantejoulas e paetês na história – ou num recorte dela – da vida do pianista Liberace, produzida pela HBO, que, curiosamente, devolveu para a televisão um personagem que a própria TV ajudou a criar.

Depois de conquistar plateias, misturando música erudita e popular, usando roupas espalhafatosa e cheias de brilho, Wladziu Valentino Liberace ficou famoso apresentando um programa semanal em rede nacional, nos Estados Unidos. Nascia ali um astro pop, que Soderbergh retrata já no final de sua carreira. O diretor não poupa seu homenageado, retratado como grande colecionador de móveis, mansões e garotos jovens e fortes. É uma cinebiografia tradicional, situada num universo gay pré-AIDS da virada dos anos 70 para os 80.

Para o papel principal, o cineasta recrutou Michael Douglas, que, corajoso, talvez esteja na melhor performance de sua vida. Prestes a completar 70 anos, o ator empresta para o personagem um misto de afetação e delicadeza, que o humaniza sem julgar seu comportamento compulsivo. Douglas está cheio de trejeitos e mudou até a voz – e parece à vontade o tempo inteiro, seja nas apresentações do pianista trajando fantasias de escolas de samba, seja nas cenas íntimas com Matt Damon, que interpreta seu amante Scott Thorson.

O filme se baseia no livro escrito por Thorson, Behind the Candelabra: My Life With Liberace, o que explica seu formato convencional. Damon está bem dedicado ao papel, mas quem rouba mesmo à cena é Rob Lowe, como o cirurgião plástico chapado e bronezado de Liberace, uma espécie de versão anterior do Dr. Ray. A verdade é que, por trás de sua direção de arte competentíssima, principalmente na caracterização dos personagens, e por sua trama tão ousada que nenhum estúdio quis bancar o filme, Soderbergh fez um filme comportado, comportado até demais para um cineasta geralmente tão plasticamente ousado. O diretor parece ter se contentado em retratar os excessos, visuais ou não, de Liberace que resolveu, ele mesmo, não arriscar. O resultado é que Behind the Candelabra é um filme  bom, mas poderia ser melhor.

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[Behind the Candelabra, Steven Soderbergh, 2013]

Comentários

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2 comentários sobre “Festival do Rio 2013: Behind the Candelabra”

  1. Acabei de ver o filme, fico pensando se o “é bom, mas poderia ser melhor” não fica por conta da nossa expectativa. Porque a minha só cresceu desde a primeira vez que vi uma foto do filme, eu esperava um filme extraordinário, realmente, mas não chega a tanto (apesar de ser muito bom). Outstanding, mesmo, só o Michael Douglas – e eu também curti demais o Rob Lowe (como não? hehe). Mas o Matt Damon tá muito bem, achei difícil o papel dele, até por estar representando o autor do livro, deve ter sido um tremendo desafio. Enfim, muito bom o filme. Abs!

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