Pra começar, uma informação: eu vi o primeiro Solaris (que Andrei Tarkovsky dirigiu em 1972) há longos sete ou oito anos e, sinceramente, não estava preparado para tanto. Mal lembro dele. Por isso, esse texto fala sobre o filme de Steven Soderbergh e nunca o compara ao outro. Se um filme não consegue existir sozinho e tem que necessariamente ser associado a outro ou a um livro ou a uma peça, acho que não cumpre sua função como obra, seja de arte seja do que for.
Solaris é um planeta a ser explorado, mas algo estranho acontece a seus exploradores. Cabe ao psiquiatra vivido por George Clooney investigar o que acontece na estação espacial que pesquisa o planeta e trazer seus tripulantes de volta à Terra. Mas Solaris não quer que nenhum visitante vá embora, talvez se sinta só. Para isso, cria agradáveis ilusões para os olhos de quem se aproxima: faz pessoas queridas voltarem à companhia daqueles que quer tomar para si. Mesmo que elas já estejam mortas. Clooney ainda sofre pela perda de sua esposa, que se suicidou anos antes. O reencontro o coloca em crise: vale a pena ter algo que não é verdadeiro?
O romance de Stanislaw Lem, que não gostou de nenhuma de suas adaptações para o cinema, disserta sobre realidade e ilusão, verdade e mentira. Há reclamações de que o filme é reducionista e aposta em como o amor pode ser tão grande a ponto de atravessar a barreira da morte. Para mim, Soderbergh fala sobre como é mais fácil viver da fantasia, da ilusão. De como é mais agradável se acomodar a uma situação que não se consegue resolver. Os personagens vivem um dilema angustiante: abdicar da realidade ruim e abraçar a mentira boa? Para mim, o final de Solaris não tem nada de feliz. É o mais infeliz que poderia haver.
Solaris
[Solaris, Steven Soderbergh, 2002]