UM FILME DE FAMÍLIA

Duas atrizes transformam texto retórico num encontro sem concessões

Ingmar Bergman sempre foi um cineasta da palavra. A força motora de seus filmes está na combinação texto + a interpretação desse texto. Sonata de Outono pode ser considerado, então, uma obra clássica do cinema do diretor sueco. É um filme estruturado no diálogo de duas mulheres, mãe e filha, que se encontram depois de uma ausência de sete anos: um encontro que reabre as crateras da relação entre as duas. Apesar da fotografia do colaborador fiel, Sven Nykvist, não perder a competência habitual, não existe privilégio para a imagem que, depois de dividir o papel de protagonista com o roteiro em filmes anteriores da dupla, aqui é apenas coadjuvante, embalagem, sem valor sígnico.

Com o texto sob os holofotes, Bergman se muniu de duas grandes atrizes: a então companheira Liv Ullmann e uma lenda, Ingrid Bergman, que, apesar de conterrânea, não guarda parentesco com o cineasta. O texto acha então o tom certo, frio e cruel, na excelência das intérpretes. A evolução do filme, em virtude da competência da dupla, é gritante: começa como exercício retórico e se transforma enfim numa obra de referência, onde a palavra de Bergman se despe de um cunho estritamente intelectual-psicológico para virar um belo e difícil acerto de contas entre mãe e filha.

SONATA DE OUTONO
Höstsonaten, França/Alemanha Ocidental/Suécia, 1978.

Direção e Roteiro: Ingmar Bergman.

Elenco: Liv Ullmann, Ingrid Bergman, Lena Nyman, Halvar Björk, Marianne Aminoff, Arne Bang-Hansen, Gunnar Björnstrand, Erland Josephson, Georg Løkkeberg, Mimi Pollak, Linn Ullmann.

Fotografia: Sven Nykvist. Edição: Sylvia Ingmarsdotter. Direção de Arte: Anna Asp. Figurinos: Inger Pehrsson. Música: peças de Johann Sebastian Bach, Frédéric Chopin, Georg Friedrich Händel e Robert Schumann. Produção: Katinka Faragó, Lew Grade e Martin Starger.

nas picapes: Blue Valentine, Tom Waits.

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