Star Wars Episódio III - A Vingança dos Sith

Há muito tempo, numa década muito distante, os anos 70, um homem chamado George Lucas mudou para sempre o cinema. Lucas, que até então tinha apenas dois filmes no currículo, não inventou recursos de linguagem, não criou um gênero novo, não brincou com a estrutura dos filmes. A transformação do cinema com George Lucas foi a do campo da imaginação. O cineasta resgatou personagens e histórias mitológicas e as deslocou para o mais misterioso e instigante dos tempos: o futuro. Lá, redesenhou as lendas, entre a magia e a tecnologia. Criou o maior épico do cinema moderno. Uma Nova Esperança, de 1977, que é mais conhecido pelos brasileiros como Guerra nas Estrelas, inaugurou um universo lúdico, físico, conceitual, que devolveu uma certa inocência ao cinema. A essência da obra do cineasta é o da criatividade e não exatamente o da invenção. George Lucas é muito mais um grande criador do que um bom cineasta, tanto que os dois filmes que completam a trilogia original, ambos assinados por outras pessoas, são melhor dirigidos do que o longa que inaugura a série.

A vastidão de sua criação e as limitações da época fizeram Lucas podar sua obra. Mas isso todo mundo já sabe. Quando retomou sua saga, em 1999, o criador reassumiu o posto de diretor e os dois filmes que inauguram a epopéia cósmica saíram mais fracos que o esperado. A falta de mão de vinte e três anos sem dirigir um filme resultou em filmes pouco concentrados, dispersos e até relapsos. Em compensação, houve uma evolução. Ataque dos Clones, de 2002, é melhor do que A Ameaça Fantasma, de três anos antes. Mas os dois ficam anos-luz dos três longas originais. A expectativa em torno de A Vingança dos Sith era justamente em como o filme conseguiria recuperar o fôlego da primeira trilogia. E o longa que encerra – ou ainda, que completa – a saga é melhor que a encomenda. Com o filme, Lucas não só retoma o componente mágico que parecia ter sido diluído, como reinventa a “grande aventura”, apesar de uma preocupação excessiva com a ação. Essa recuperação épica é tão bem conduzida que mesmo a canastrice de Hayden Christensen cabe perfeitamente à personagem.

Um incontestável mérito do filme é o de trabalhar com inteligência a partir do óbvio. Nada é tão fácil. Todas as decisões têm prismas diversos. Anakin Skywalker não abraçou o lado negro da força apenas porque tinha essa propensão maligna. A primeira frase de Darth Vader, o maior dos vilões, é bem pontual neste sentido. E o amor também gera o mal. Mesmo a personagem de Ian McDiarmid ganha contornos que multiplicam suas leituras. E os jedis não são tão perfeitos assim. Lucas faz heróis falíveis. E isso encanta. Ewan McGregor, a partir da metade do filme, tem uma virada completa na sua interpretação, ganhando ares que remetem imediatamente ao Obi-Wan Kenobi de Alec Guiness. São deles muitas das melhores cenas de A Vingança dos Sith, como o diálogo com Padmé e a luta final entre os mais famosos cavaleiros jedi. Quando chega próximo ao final, o filme se aproxima tão perigosamente dos primeiros longas que é impossível não se envolver emocionalmente. Lucas liga os pontos, preenche as lacunas, assume suas referências e, em meio a alguns tropeços, vira grande diretor. Bom mesmo. Domina com firmeza suas crias, crias que deixou para a História.

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[Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith, George Lucas, 2005]

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