Os cinemas brasileiros receberam muitos filmes dignos de nota neste primeiro semestre de 2010. De animações a filmes de terror, das etnias mais distantes aos blockbusters norte-americanos. O circuito de cinemas do país ainda ignora muita coisa boa, mas deu sinais de recuperação nos últimos seis meses. Fechar uma relação com 10 títulos foi pouco.

os melhores

Antes da lista final, cinco filmes que merecem atenção: O Profeta, filme supervalorizado, mas muito bem realizado; Tulpan, melhor filme étnico em muito tempo; Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague, documentário tradicional, mas com material histórico riquíssimo; Kick-Ass, simples e deliciosa adaptação de quadrinhos e Tudo Pode Dar Certo, retorno de Woody Allen às origens, geográficas ou estilísticas.

Fatih Akin

20 Soul Kitchen
Soul Kitchen, Fatih Akin, 2009

Faço questão de colocar este filme na lista porque foi somente fazendo uma comédia simples que esse diretor conseguiu me convencer. Além de delicioso de se assistir, o longa é ágil, tem um texto inteligente e um protagonista inspirado.

Jane Campion

19 Brilho de uma Paixão
Bright Star, Jane Campion, 2009

A diretora neozelandesa retoma a boa forma com uma simples história de amor à moda antiga, emoldurada na poesia de seu protagonista seja no texto, seja no retrato de época, seja na deslumbrante e mesmo assim discreta embalagem visual do filme.

Joe Johnston

18 O Lobisomem
The Wolfman, EUA, 2010

O filme, quase que completamente menosprezado pela crítica e pelo público, é um dos mais classudos sobre o assunto. A adaptação evoca o tratamento que Coppola deu a Drácula e imageticamente o filme é muito bem resolvido. Benicio Del Toro é um monstro.

Karim Ainouz e Marcelo Gomes

17 Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo
Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, Karim Aïnouz e Marcelo Gomes, 2009

Dividiu opiniões, mas não é nem a obra-prima nem o experimento oco de que foi acusado. A costura de poesia, imagens e canções é irregular, mas se arrisca ao apresentar o Nordeste e o amor como seres vivos, sem que haja alguém para encarar o espectador.

Mary and Max

16 Mary e Max
Mary and Max, Adam Elliott, 2009

Este é um raro exemplo de animação independente que sabe manter o equilíbrio entre sua condição alternativa (diálogos engraçadinhos, fotografia escura) e sua natureza doce (personagens adoráveis, visual encantador). O resultado é estranho e, assim, bom.

Kathryn Bigelow

15 Guerra ao Terror
The Hurt Locker, Kathryn Bigelow, 2008

Esse filme me interessa muito mais por seus atributos técnicos do que necessariamente por sua suposta visão diferente da guerra. A diretora sempre foi muito melhor em forma do que em conteúdo e esse filme aqui é tecnicamente impecável.

Elia Suleiman

14 O Que Resta do Tempo
The Time that Remains, Elia Suleiman, 2009

A história de um país em guerra retratada nos relatos episódicos da vida de um homem. O diretor é extremamente feliz em dar partida a sua proposta, mas não se garante como ator e a pantomima enfraquece o terço final, mas não deixa o filme menos bonito.

Gabriel Illanes, Francisco Miguez, Gabriela Rocha

13 As Melhores Coisas do Mundo
As Melhores Coisas do Mundo, Laís Bondazky, 2010

O Brasil nunca fez um filme que capturasse tão de perto a essência do adolescente de hoje. E este aqui, mesmo que adote padrões extra-classe, é delicadíssimo com seus personagens. Tô pra ver um filme mais sincero com seu público-alvo neste ano.

Coen Brothers

12 Um Homem Sério
A Serious Man, Joel e Ethan Coen, 2009

Não é o melhor roteiro, mas é o filme mais bem dirigido dos irmãos Coen. É aqui que eles mostram todo o domínio técnico que desenvolveram ao longo dos anos: fotografia, montagem, direção de atores perfeitos, um Bar Mitzvah sublime e uma cena final pra fazer pensar.

Robert Downey Jr.

11 Homem de Ferro 2
Iron Man 2, Jon Favreau, 2010

Não há grandes sequências de ação, mas elas divertem. Mas o que é realmente bom nesse filme é como o roteiro esmiuça o personagem principal, em vez de desenvolver melhor novos personagens. Robert Downey Jr. está brilhante mais uma vez.

Procurando Elly

10 Procurando Elly
Darbareye Elly, Asghar Farhadi, 2009

O filme que renovou minha fé no cinema iraniano depois de anos sem um novo material empolgante. O debate sobre verdade e mentira é conduzido da forma menos convencional possível e ainda evoca Michelangelo Antonioni.

O Segredo dos Seus Olhos

9 O Segredo dos Seus Olhos
El Secreto de sus Ojos, Juan José Campanella, 2009

Este filme geralmente é saudado pela cena do estádio de futebol ou pelo golpe final da trama de suspense. Para mim, elas pouco importam. O que me encanta no filme é como o diretor consegue dominar o melodrama e nos entregar uma linda história de amor.

Dean Deblois, Chris Sanders

8 Como Treinar Seu Dragão
How to Train Your Dragon, Dean Deblois e Chris Sanders, 2010

Muito mais do que uma animação que funciona deliciosamente no 3D, muito mais do que um belo filme de aventura, este é um filme sobre crescer, sobre manter sua identidade e sobre guardar para sempre as consequências de seus atos. O final é belíssimo.

Martin Scorsese

7 Ilha do Medo
Shutter Island, Martin Scorsese, 2010

Um artesão exímio que também é um intelectual da arte recicla signos, ângulos, ideias e climas de um cinema de outrora com respeito, mas sem subserviência. O resultado desta costura é uma bela trama de suspense com gosto de velhos tempos.

Spike Jonze

6 Onde Vivem os Monstros
Where the Wild Things Are, Spike Jonze, 2009

A maturidade que o diretor demonstra em seu terceiro filme (oito anos depois do anterior) é o que valida um projeto tão encarcerado no universo infantil. Poucas pessoas poderiam atravessar a barreira do lúdico com delicadeza e voltar ilesas.

Roman Polanski

5 O Escritor Fantasma
The Ghost Writer, Roman Polanski, 2010

O melhor filme do diretor desde Lua de Fel reassume o universo falível de sua cinematografia numa trama noir que ora homenageia o gênero, ora parece tentar desacreditá-lo. A cena final é uma das mais fortes do ano.

Mother

4 Mother
Madeo, Bong Joon-ho, 2009

Depois de desfigurar o filme de monstro, o cineasta reinventa o filme de suspense com uma protagonista improvável e uma história que vai do melodrama mais simples à comédia mais rasgada. E no meio disso tudo cria cenas tão bonitas quanto a da dança no campo.

Lee Unkrich Pixar Disney

3 Toy Story 3
Toy Story 3, Lee Unkrich, 2010

Um filme de despedidas que pode ser extremamente cruel e incrivelmente delicado. A história é simples – assim como as soluções de roteiro – mas fala diretamente com nossa memória afetiva. O final, vocês já sabem, é lindíssimo.

Werner Herzog

2 Vício Frenético
The Bad Lieutenant: Port of Call, New Orleans, Werner Herzog, 2009

A releitura amoral do clássico de Abel Ferrara talvez seja o filme mais bem-humorado do cineasta alemão. Mas o humor refinado está a serviço do retrato de seu protagonista, antologicamente interpretado por Nicolas Cage.

Michael Haneke

1 A Fita Branca
Das Weiss Band, Michael Haneke, 2009

O filme é uma investigação do comportamento humano como resposta à religião em forma de terror psicológico. A violência da cena do diálogo entre pai e filho não precisa de sangue ou contato físico, mesmo assim é de uma crueldade quase monstruosa.

os piores

Já a lista dos piores filmes lançados neste ano é encabeçada pelo exercício de estilo oco chamado Insolação, que marcou a estreia do diretor de teatro Felipe Hirsch no cinema, co-assinando o longa com Daniela Thomas, pela primeira vez sem Walter Salles. No entanto, o Brasil não apenas garantiu a pole position, como emplacou mais dois títulos na lista, um de um diretor novato e outro de um veterano.

Daniela Thomas, Felipe Hirsch

1 Insolação, de Daniela Thomas e Felipe Hirsch
2 Segurança Nacional, de Roberto Carminati
3 Percy Jackson & o Ladrão de Raios, de Chris Columbus
4 Um Olhar do Paraíso, de Peter Jackson
5 O Amor Segundo B. Schianberg, de Beto Brant

Comentários

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17 comentários sobre “Top 20: filmes do primeiro semestre 2010”

  1. Oi Chico, já leio seu blog a um tempo(descobri pelo do Superoito) e é um dos meus favoritos, muito bem escrito.

    Seu top até aqui tá bem parecido com o meu. Só que ainda não vi o novo do Polanski. E não gosto de um ou outro dai. Bom ver “Onde Vivem os Monstros” e “Um Homem Sério”, que a grande maioria não gostou, mas que estão garantidos na minha lista de fim de ano.

    Abraços.

  2. A FITA BRANCA, colocação mais que honrada. Até hoje me faço essa pergunta, quem disse que violência precisa ter sangue? Ainda não vi TOY STRORY 3, mas meu coração balançou pelo segundo lugar, adoraria ter visto MOTHER lá. Adorei a lista. Só colocaria EDUCAÇÃO, embora eu particularmente goste muito do filme, sei que este se destaca mais pela atuação da atriz do que pelo conjunto em geral. Agora é torcer pelo segundo semestre quando teremos Alejandro Gonzales Innaritu com BIUTIFUL, Takeshi Kitano com OUTRAGE, Mike Leigh com ANOTHER YEAR, Mathieu Almaric com TOURNEE e dois filmes que estão curiosamente na minha lista, LUNG BOONMEE RALUEK CHAT e NEVER LET GO. Vamos torcer.

  3. Da tua lista, não vi Procurando Elly, Soul Kitchen, O Escritor Fantasma e O que resta do tempo (tenho esperança de que o do Polanski chegue por aqui, mas o resto terá que ser por métodos alternativos). Minha lista eu posto em breve no meu blog, embora vc tenha citado quase todos os filmes.

    Vc viu Aproximação (do Amos Gitai, com a Juliette Binoche) ou Os Inquilinos (do Sérgio Bianchi)? Fiquei curioso pelos nomes envolvidos em ambos, mas até agora não li nada sobre eles.

  4. Minha lista de favoritos é a seguinte:
    1 A Fita Branca, de Michael Haneke
    2 Um Homem Sério, de Joel e Ethan Coen
    3 Tudo Pode Dar Certo, de Woody Allen
    4 As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodanzky
    5 Preciosa – Uma História de Esperança, de Lee Daniels
    6 Educação, de Lone Scherfig
    7 Pecado da Carne, de Haim Tahakman
    8 Onde Vivem os Monstros, de Spike Jonze
    9 Vício Frenético, de Werner Herzog
    10 O Lobisomem, de Joe Johnston

    E Distante Nós Vamos, é claro, que saiu direto em DVD com um título ridículo, mas não deixa de ser um grande filme.

    Poderia mudar quando eu visse Toy Story 3 e o novo do Polanski. O chato é que saíram pouquíssimos filmes de 2010 dignos de nota, até agora.

    Quanto aos piores filmes, queria contar uma anedota. Moro no interior de Santa Catarina, numa cidade de 10 mil habitantes, e, na escala de probabilidade de um em um milhão, fui contemplado com o prêmio: o diretor de Segurança Nacional é meu conterrâneo. Que desgosto, viu?

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