Alfred Hitchcock, Ingmar Bergman, Kenji Mizoguchi, Rainer Werner Fassbinder. A história do cinema mostra que muitos de seus diretores mais respeitados tiveram que fazer dois, três, quatro, muitos filmes para conseguir algum reconhecimento. A maturidade cinematográfica destes e de tantos outros nomes foi sendo lapidada aos poucos. Mas há um farto punhado de casos em que cineastas, desde seus primeiros trabalhos, entregaram obras que marcaram, quando não revolucionaram, a história do cinema. Recentemente, alguns cineastas estreantes mostraram serviço com pérolas como Distrito 9, de Neill Blomkamp, Procurando Sugar Man, de Malik Bendjelloul, e Las Acacias, Pablo Giorgelli. Mas quais seriam as melhores primeiras obras de todos os tempos? Avanços tecnológicos, pioneirismo temático, maestria técnica, influência. Os “motivos” na hora de elencar os melhores primeiros filmes já feitos são diferenciados. Dando continuidade ao Projeto Top 40, uma visita aos baús da história do cinema e a minha própria história, segue a lista com os 40 melhores filmes de estreia.

Dark Star

40 Dark Star
[Dark Star, John Carpenter, 1974]

O longa de estreia de John Carpenter é datado, barato, com efeitos toscos, nonsense e quase esquizofrênico. O cineasta passeia pela fronteira do kitsch e da comédia simplista, mas Dark Star faz uma crítica ferrenha aos militares, ao autoritarismo e ao imperalismo dos EUA e tem mais subtextos do que dá pra descrever, geralmente travestidos de bobagem.

Eraserhead

39 Eraserhead
[Eraserhead, David Lynch, 1977]

As sementes de tudo o que David Lynch viria fazer em quase quatro décadas de carreira estão neste primeiro longa do cineasta. Em Eraserhead, ele traz a experiência do terror a partir da deformação do corpo, reforçado pelo preto-e-branco da fotografia, já lança o surrealismo como elemento narrativo e experimenta trabalhar com sonhos e alucinações.

A Idade de Ouro

38 A Idade do Ouro
[L’Âge d’Or, Luis Buñuel, 1930]

Luis Buñuel sempre foi um provocador e seu primeiro longa-metragem, mais uma parceria (ainda que não concretizada) com Salvador Dalí, era uma crítica poderosa ao comportamento burguês. Um dos primeiros a utilizar os signos e códigos do surrealismo no cinema, o diretor faz aqui uma coleção de cenas sem linearidade, cheia de humor negro e imagens bizarras que cristalizam sua proposta de alfinetar o clero e as instituições burguesas.

A Faca na Água

37 A Faca na Água
[Nóz w Wodzie, Roman Polanski, 1962]

O primeiro longa-metragem de Polanski é uma poderosa história sobre o quanto a chegada de um estranho pode dizer sobre o que existe entre um homem e uma mulher e sobre o comportamento humano. O encontro entre os personagens se transforma num campo fértil para uma batalha de classes e um conflito de gerações.

São Paulo, Socieade Anônima

36 São Paulo, Sociedade Anônima
[São Paulo, Sociedade Anônima, Luis Sergio Person, 1965]

Em seu primeiro filme, Luis Sérgio Person tentou entender São Paulo e o paulistano em pleno processo de industrialização. São Paulo, Sociedade Anônima faz uma radiografia da alma da cidade e de sua ambiguidade, que oferece possibilidades ao mesmo tempo em que massacra o ser humano. O personagem de Walmor Chagas, um operário que virou sócio de uma fábrica, é o homem que tenta se encaixar nesse processo.

Reino Animal

35 Reino Animal
[Animal Kingdom, David Michôd, 2010]

O cinema já mostrou várias famílias criminosas, mas o australiano David Michôd encontrou uma maneira melancólica e intimista de apresentar os Codys. Num filme essencialmente masculino, é uma mulher quem comanda a família e a ação. A presença magnética de Jackie Weaver e a mão equilibrada do diretor levam Reino Animal para um lugar diferenciado na lista de filmes do gênero.

A Estirpe dos Malditos

34 A Estirpe dos Malditos
[Children of the Damned, Anton M. Leader, 1964]

Parece uma continuação picareta de A Aldeia dos Amaldiçoados, mas o filme é o retrato de uma época e uma reflexão sobre intolerância étnica. Os stills incomuns da abertura cedem espaço para um elaborado trabalho de fotografia, que serve de apoio para um dos melhores filmes políticos já vistos. É facil classificá-lo como datado, mas a Guerra Fria nunca foi tão bem traduzida num longa-metragem.

Força do Mal

33 A Força do Mal
[Force of Evil, Abraham Polonsky, 1948]

Abraham Polonsky só assinou três filmes, talvez por ter sido vítima da caça às bruxas imposta em Hollywood nos anos 50. Mas seu primeiro trabalho, A Força do Mal, é um longa impecável: um filme noir muito além da maioria dos filmes noir, que ao mesmo tempo que radiografa o mundo do crime na cidade grande, entende a ganância como uma força maligna que oprime o homem.

Sombras

32 Sombras
[Shadows, John Cassavetes, 1959]

Numa época em que o cinema americano dava voltas ao redor de um padrão, John Cassavetes choca a plateia com a história de uma mulher negra e suas relações com o namorado branco e com os irmãos. O roteiro é simples e Sombras se concentra muito mais numa sucessão de cenas que parecem parte do fluxo da vida. A encenação fica em segundo plano. O filme de Cassavetes quer trazer o improviso para o foco.

Killer of Sheep

31 Killer of Sheep
[Killer of Sheep, Charles Burnett, 1977]

O roteiro é quase um fiapo em Killer of Sheep, mas Charles Burnett estava muito mais interessado em decifrar seus personagens do que em contar uma historinha. Registrando fatos corriqueiros na vida, dedicando-se a detalhes do cotidiano de uma comunidade de negros nos Estados Unidos, o diretor deu voz a um grupo geralmente ignorado pelo cinema americano e ajudou a traduzir um status quo.

Trens Estreitamente Vigiados

30 Trens Estreitamente Vigiados
[Ostre Sledované Vlaky, Jirí Menzel, 1966]

Milos e Hubicka são funcionários de uma estação ferroviária na Tchecoslováquia, em plena Segunda Guerra Mundial, mas o conflito é apenas um pano de fundo para o filme de estreia de Jiri Menzel. Trens Estreitamente Vigiados, um dos mais famosos exemplares da nouvelle vague tcheca, é muito mais sobre a iniciação sexual de Milos do que sobre a guerra. Um elogio ao jovem numa época em que aquele país e aquele cinema buscavam a renovação.

Doze Homens e um Segredo

29 Doze Homens e uma Sentença
[12 Angry Men, Sidney Lumet, 1957]

Sidney Lumet deixou um legado de clássicos, mas seu primeiro filme é uma aula de como dominar texto e elenco. Doze Homens e uma Sentença é a adaptação de uma peça feita para a TV, filmada exclusivamente nos cenários de um julgamento. Lumet retrata o conflito entre os jurados na busca por um veredito como um embate de diferenças, de origens, etnias e classes sociais. No elenco, performances excelentes de Henry Fonda e Lee J. Cobb.

Titicut Follies

28 Titicut Follies
[Titicut Follies, Frederick Wiseman, 1967]

Longa de estreia do maior documentarista americano, Titicut Follies ficou banido durante décadas por mostrar “obscenidades”. Por obscenidades, entenda-se o que acontece por trás dos muros de uma instituição que abriga pacientes com problemas mentais nos Estados Unidos. As imagens fortes que Fredrick Wiseman conseguiu coletar ajudam a questionar a origem dos males ao mesmo tempo em que reformulam o cinema documentário.

Sem Destino

27 Sem Destino
[Easy Rider, Dennis Hopper, 1969]

A mudança de comportamento do jovem americano do fim dos anos 60 tem em Sem Destino uma de suas mais fiéis traduções no cinema. A liberdade dos motociclistas vividos pelo diretor Dennis Hopper e por Peter Fonda era um convite irresistível ao “pé na estrada”. Os personagens buscavam “na vida” as respostas, sensações e experiências que não encontravam em casa. O “born to be wild” nunca foi tão bem representado.

Bang Bang

26 Bang Bang
[Bang Bang, Andrea Tonacci, 1970]

O primeiro filme de Andrea Tonacci é um grito de guerra às convenções narrativas e formais do cinema. Bang Bang combina uma perseguição que é insinuada, mas não existe; um grupo de personagens bizarros que nunca se explicam por completo e um bastidor de filmagens onde nada é muito confiável. O resultado é uma obra-prima do caos, onde o bom humor comanda a ação e a crítica ao status quo se mantém viva.

Todas as Mulheres do Mundo

25 Todas as Mulheres do Mundo
[Todas as Mulheres do Mundo, Domingos de Oliveira, 1967]

Numa época em que a comédia tipicamente carioca parece ser o único gênero em que se aposta em larga escala no cinema brasileiro, relembrar do impecável filme de estreia de Domingos de Oliveira se faz necessário. Todas as Mulheres do Mundo é uma comédia deliciosa, que abre espaço tanto para o comentário político quanto para a amoralidade inerente do cineasta. Uma obra-prima de quase 50 anos que faz uma comédia como já não mais se faz e captura um Rio que não existe mais.

Otoshiana

24 Otoshiana
[Otoshiana, Hiroshi Teshigahara, 1962]

Os filmes de Hiroshi Teshigahara moram num limite entre o real e o imaginário e Otoshiana, primeiro longa do japonês, talvez seja o que mais confronte essas duas instâncias. Depois de uma abertura enigmática, o filme faz uma descrição detalhada do dia-a-dia do trabalhador e de seu filho para que, numa mudança de cenário e de perspectiva, o protagonista se veja preso numa caçada fantasmagórica em que tudo pode acontecer.

Nanook, o Esquimó

23 Nanook, o Esquimó
[Nanook of the North, Robert Flaherty, 1922]

Há vários motivos para abominar Nanook, o Esquimó, que, de certa maneira, provocou a morte de seu protagonista, mas é inegável o pioneirismo de Robert J. Flaherty no retrato de um personagem, na reconstituição de seu cotidiano, na encenação de seus estilo de vida. Nanook, o homem é fascinantemente simples. Nanook, o filme, é o começo de um tipo de cinema.

Aniki-Bobó

22 Aniki-Bobó
[Aniki-Bobó, Manoel de Oliveira, 1942]

Manoel de Oliveira já era neorrealista antes de Roberto Rossellini. Aniki-Bobó é um daqueles filmes que se ajoelham para ficar da altura de seus protagonistas, um grupo de crianças. A câmera naturalista capta toda a graça do elenco mirim, mas o filme é bem mais do que uma aventura infantil bonitinha. Setenta anos atrás, Manoel de Oliveira fazia um filme sobre crescer.

O Pântano

21 O Pântano
[La Ciénaga, Lucrecia Martel, 2001]

Lucrecia Martel é uma esteta do caos. Em O Pântano, os personagens vivem em estado de inércia, prostrados ao sol e na vida, numa metáfora bem direta do momento histórico da Argentina no começo dos anos 2000. O filme é duro, quase ríspido, e parece querer sufocar o espectador com um trabalho de ambientação seco, sem emoção, que ressalta o texto excelente e um elenco totalmente inspirado por ele.

O Parque Macabro

20 O Parque Macabro
[Carnival of Souls, Herk Harvey, 1962]

O rosto que persegue Mary é uma das imagens icônicas de O Parque Macabro, um filme repleto delas. De George A. Romero a David Lynch, são muitos e variados os cineastas que se dizem influenciados por este único longa de Herk Hervey. O filme que custou U$ 33 mil é uma pequena e despudorada história de fantasmas, que ajudou a pavimentar ícones do cinema de terror.

Lola, a Flor Proibida

19 Lola, a Flor Proibida
[Lola, Jacques Demy, 1961]

Jacques Demy dedica seu primeiro filme a Max Ophüls, autor de Lola Montés, cujo título também batizou sua personagem principal. Lola, a Flor Proibida é um filme-carrossel sobre a vida e sobre uma mulher no meio de uma série de encontros e desencontros. O primeiro dos contos poéticos que o cineasta dirigiu com seu estilo único, vivo e colorido (mesmo quando o filme é em preto-e-branco).

O Espírito da Colmeia

18 O Espírito da Colmeia
[El Espirito de la Colmena, Victor Erice,1973]

Victor Erice situa logo depois da Guerra Civil Espanhola seu conto sobre o despertar de uma garotinha para o mundo. A pequena Ana, interpretada pela incrível Ana Torrent, descobre no Frankenstein, de James Whale, a magia e o horror dos limites rarefeitos entre real e imaginário – e é nesse universo onde tudo é possível que mora O Espirito da Colmeia e que mora o próprio cinema.

Relíquia Macabra

17 Relíquia Macabra
[The Maltese Falcon, John Huston, 1941]

Relíquia Macabra tem várias importâncias. É o longa de estreia de John Huston, que viria a ser um dos cineastas mais prolíficos da história americana por quatro décadas. É o filme que resgatou a carreira de Humphrey Bogart e o transformou em astro. É um dos primeiros, senão o primeiro filme noir. Ajudou a lançar as bases do gênero: a narrativa à noite, a narração em off, os protagonistas anti-heróis.

Cães de Aluguel

16 Cães de Aluguel
[Reservoir Dogs, Quentin Tarantino, 1992]

As bases do cinema de Quentin Tarantino estão em Cães de Aluguel. Já na primeira cena, com os gângsters discutindo Madonna, o espectador se dá conta de que têm à frente um cineasta interessado em desconstruir tudo. Referências da cultura pop são desfiladas na verborragia dos personagens que é a verborragia do diretor. Este é o primeiro dos filmes que Tarantino dirige para si mesmo, mas que inexplicavelente conversam com uma geração.

O Mensageiro do Diabo

15 O Mensageiro do Diabo
[The Night of the Hunter, Charles Laughton, 1955]

O bem e o mal têm faces bem distintas em O Mensageiro do Diabo. Se o primeiro filme dirigido pelo ator Charles Laughton trabalha com estereótipos, esses estereótipos estão envoltos numa armadura verdadeiramente macabra. A fotografia e a direção de arte são heranças do Expressionismo Alemão e valorizam e justificam a maneira como o cineasta apresenta e defende cada personagem. Laughton fez um dos grandes filmes noir. Só não fez mais porque ficou decepcionado com a recepção fria aquele que também foi seu último filme como diretor.

O Garoto

14 O Garoto
[The Kid, Charles Chaplin, 1921]

Charles Chaplin já era um dos pilares de Hollywood quando dirigiu seu primeiro longa-metragem. Em pouco mais de uma hora, O Garoto eleva o agridoce das comédias do maior nome do cinema silencioso à condição de obra-prima. Com mais espaço para desenvolver sua trama, Chaplin contextualiza melhor as gags, cria um laço sentimental com o espectador e extrai de seu coprotagonista, Jackie Coogan, de 6 anos, uma performance devastadora. “Seis rolos de alegria”, anunciava o cartaz deste filme. Nunca houve uma propaganda mais fiel.

Hiroshima, Meu Amor

13 Hiroshima, Meu Amor
[Hiroshima, Mon Amour, Alain Resnais, 1959]

Manifesto político, obra de arte aberta, literatura filmada. Hiroshima, Meu Amor é muitas coisas em um só filme, o primeiro longa-metragem de Alain Resnais, morto neste ano. Ao longo de toda sua carreira, o diretor voltaria aos temas que lança aqui, como os efeitos da tragédia, as relações interpessoais, a memória. Hiroshima aparece aqui não como uma cidade em pedaços, mas como um lugar a ser reconstruído, tal como Resnais, junto com seus colegas da Nouvelle Vague, queria fazer com o cinema.

O Homem de Palha

12 O Homem de Palha
[The Wicker Man, Robin Hardy, 1973]

Robin Hardy consegue trazer o sobrenatural do subtexto para a superfície em O Homem de Palha. O longa, um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, foi escrito pelo mesmo autor do livro em que foi baseado, o que deve ter ajudado a manter o estado febril que o filme emana. Hardy consegue traduzir o torpor que comanda a comunidade pagã numa ilha afastada do litoral escocês. Seus rituais com máscaras de animais parecem absolutamente críveis e suas crenças assustadoras. As canções compostas para o filme ajudam a dar corpo ao intangível.

Terra de Ninguém

11 Terra de Ninguém
[Badlands, Terrence Malick, 1973]

Terrence Malick estreou como diretor com uma versão da história real do casal de amantes de cruzou parte dos Estados Unidos numa viagem sanguinária. A narração em off da “mocinha”, que descreve docemente a trajetória do casal, contrasta com a fúria assassina do rapaz, que deixou um rastro de sangue nos anos 50. Em Terra de Ninguém, Malick usa esse conto de fadas, visão que se reforça pela fotografia esplendorosa, mas às avessas, para tratar de temas grandiosos como a América, o amor e a morte.

Limite

10 Limite
[Limite, Mário Peixoto, 1931]

Mário Peixoto levou o existencialismo para o cinema em seu primeiro e único filme. Em Limite, um homem e duas mulheres, todos em momentos trágicos de suas vidas, vagam num barco à deriva. Filme mudo, realizado já nos primeiros anos do cinema sonoro que ainda não havia chegado ao Brasil, utiliza diversos mecanismos de fotografia e montagem para capturar o estado de espírito de seus personagens. O mar é o ponto de fuga e a a terra, a clausura. Os flashbacks ajudam a expor as motivações de cada um deles. Passou anos sendo mais discutido do que visto. Agora, virou clássico máximo.

Isto é Spinal Tap

9 Isto é Spinal Tap
[This is Spinal Tap, Rob Reiner, 1984]

Embora tenha feito outras pérolas, Rob Reiner nunca foi tão feliz como em Isto é Spinal Tap. Como documentário musical, o filme é impecável, intercalando cenas que acompanham os bastidores de um banda de rock, apresentações ao vivo do grupo, entrevistas com seus integrantes e uma análise de sua trajetória. Tudo seríssimo, mas tudo mentiroso. A Spinal Tap é uma banda que só existe na ficção. O próprio Reiner interpreta o documentarista.

Acossado

8 Acossado
[À Bout de Souffle, Jean-Luc Godard, 1959]

Jean-Luc Godard declararia quase uma década depois de Acossado que pensava estar fazendo um thriller, mas quando viu o resultado pronto teria entendido que fez algo completamente diferente. Esta talvez seja a definição mais perfeita para um filme que insinua uma coisa, se enamora de diversos preceitos, mas que os transfigura em algo novo. O longa de estreia de Godard é reflexo do espírito livre do cineasta, que desconstrói a narrativa clássica com uma montagem descontínua que derruba toda e qualquer expectativa.

A Noite dos Mortos-Vivos

7 A Noite dos Mortos-Vivos
[Night of the Living Dead, George A. Romero, 1968]

Em 1968, George A. Romero reinventa a mitologia zumbi. Os mortos-vivos não mais são frutos de magia negra caribenha, mas resultado de uma misteriosa epidemia canibal que se espalha mordida a mordida. O filme independente mais bem sucedido da história se reserva o direito de não explicar, de eleger um protagonista negro, de retratar assassinatos graficamente nas telas, de ter canibais. Romero influenciou uma geração dentro e fora do cinema.

Gosto de Sangue

6 Gosto de Sangue
[Blood Simple, Joel Coen, 1984]

O noir caipira dos Coen é a materialização perfeita de suas boas idéias. O roteiro obedece às regras do gênero, mas não se limita quando quer reescrevê-las. O ponto de partida é a descoberta de uma traição. A seu favor, a fotografia e a trilha, bonitas e assustadoras. Frances McDormand já dava indícios da grande atriz em que viria a ser. Dan Hedaya e o impagável M. Emmett Walsh tiveram aqui os melhores momentos de suas carreiras. O som remasterizado da nova versão valoriza silêncios e insinuações.

A Infância de Ivan

5 A Infância de Ivan
[Ivanovo Detstvo, Andrei Tarkovsky, 1962]

O filme que revelou Andrei Tarkovsky foi a balada de um pequeno órfão russo em meio à invasão nazista durante a Segunda Guerra Mundial. O longa reveza o lirismo de uma belíssima fotografia em preto-e-branco com a crueldade das explosões do conflito. A Infância de Ivan é construído sobre essa dicotomia entre o lúdico da criança e a realidade extrema da guerra. Em muitos momentos, essa dicotomia está estampada no rosto do protagonista, um rosto sério, sofrido, de um garoto de 12 anos. Tarkovsky evita o sentimentalismo, mas cria uma obra de extrema delicadeza.

Os Incompreendidos

4 Os Incompreendidos
[Les 400 Coups, François Truffaut, 1959]

Um garoto que foge do reformatório e vaga pelas ruas de Paris. O protagonista é inspirado em aspectos da vida do próprio Truffaut, tem problemas com os pais, se apaixona pelo cinema. O filme foge da prisão de ter um objetivo. O cineasta parece muito mais interessado em registrar a experiência da vida. Em busca de espontaneidade, Truffaut usa o teste do ator-mirim Jean-Pierr Léaud no próprio corpo do filme. Ou seja, sem que se ressalte isso, o bastidor vai pra primeiro plano. Os Incompreendidos é filmado apenas com luz natural e o roteiro é aberto, altamente influenciado por improvisos.

O Atalante

3 O Atalante
[L’Atalante, Jean Vigo, 1934]

Uma história de amor banal, mas que nas mãos de Jean Vigo virou um exercício de cinema poético. O Atalante nasce das entrelinhas do encontro entre o documental – o realismo do filme é quase invasivo – e o onírico – as imagens aqui vão do lúdico ao lírico para dar forma ao romance entre os personagens. São essas imagens que transformam o filme de Vigo, o único longa que ele dirigiu, num dos filmes mais belos do mundo. Elas traduzem a delicadeza com que o cineasta constrói a narrativa.

O Bandido da Luz Vermelha

2 O Bandido da Luz Vermelha
[O Bandido da Luz Vermelha, Rogério Sganzerla, 1968]

O Bandido da Luz Vermelha chacoalhou o cinema brasileiro no fim dos anos 60. Rogério Sganzerla fez um filme policial bem-humorado com ritmo alucinado e pouco ou nenhum pudor. Os locutores radiofônicos em off, carregando no tom debochado apresentam a história cuja narrativa os cortes descontínuos tendem a pulverizar. A crítica política e social está presente em todo o longa. O filme é baseado num personagem real, mas desde a primeira cena, em que os cr´ditos de equipe são apresentados no letreiro de um cinema, Sganzerla afirma que o se vê na tela é ficção.

Cidadão Kane

1 Cidadão Kane
[Citizen Kane, Orson Welles, 1941]

Cidadão Kane foi concebido para ser um marco histórico. Orson Welles, o garoto prodígio do rádio e do teatro, tinha a intenção de desconstruir a estética e o conteúdo de um filme, trazendo uma iluminação de filme de terror para o drama americano, alterando campos de visão, utilizando truncagens variadas, somando a isso, atores da Broadway, efeitos sonoros do rádio que eram utilizados até em close-ups. Tudo para devassar alegoricamente a vida de um magnata da imprensa. Calculou tudo e criou o filme mais importante do cinema.

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