Toy Story 3

Eu, que adoro uma nostalgia, confesso que não sinto muitas saudades da minha infância. Mas acho que isso tem uma explicação: provavelmente eu nunca saí dela. As provas são as HQs espalhadas pela casa e minha estante cheia de action figures. Os meus ídolos ainda são os mesmos: os X-Men e os Titãs. E vez por outra eu me pego imaginando onde foram parar todos os meus brinquedos. O Aquaplay, o Pogobol e o Cubo Mágico, tudo bem, não dá pra guardar pra sempre, mas eu colecionava carrinhos de ferro, tinha um monte de Comandos em Ação e praticamente uma civilização de Playmobiles. Em algum momento, eu parei de brincar e eles saíram de cena. Hoje, lembrando disso tudo, dá um aperto no coração, mas no fundo eu sei despedidas fazem parte da vida.

Toy Story 3 é um filme sobre despedidas. É o adeus de Andy a sua infância e o adeus da Pixar aos personagens que escreveram a história do estúdio que mudou a animação para sempre. E a trupe de Woody e Buzz Lightyear ganhou de Andy e da Pixar a despedida mais bonita que alguém pode receber, uma despedida que deixa a certeza do amor embora a vida sempre teime em nos afastar para lados diferentes. Os minutos finais do filme, dessa vez dirigido apenas por Lee Unkrich, são uma das sequências mais simples, sinceras e lindas da história do cinema feito para crianças. Eu, aquele que nunca abandonou a infância, morri um pouquinho mesmo sabendo que o que conta a gente guarda escondido para visitar sempre que pode, sempre que dá, sempre que precisa.

O mais bonito nesse Toy Story 3 talvez seja o fato de que ele nunca pareça ser uma daquelas continuações oportunistas para fazer dinheiro. Do começo a fim, ele parece ser um filme feito exclusivamente para encontrar um lugar bom para seus personagens. E isso é feito em forma de uma comédia de ação tradicional que muitas vezes encontra a pureza do melodrama e aí cresce, se espalha e fica gigante. Essa série, que completa 15 anos, não tem apenas o pioneirismo da animação digital. O primeiro longa também foi revolucionário por trocar contos de fadas pela vida real porque não existe nada mais real do que ver uma criança sentar no chão e imaginar aventuras para seus brinquedos.

E no novo filme, a Pixar convida o espectador a, mais uma vez, brincar junto, delirando nas sequências de ação perfeitas e gargalhando dos personagens divertidíssimos, como a caracterização de Michael Keaton para o Ken, o namorado da Barbie, que finalmente encontrou sua mais exata tradução. Mas esse modo feliz se transforma várias vezes ao longo do filme, quase sempre sem avisar. Algumas cenas chegam a ser cruéis, como o final da sequência do lixão, mas valem cada segundo quando percebemos detalhes tão pequenos quanto o momento em que Buzz olha demoradamente para Jessie. Não segurei as lágrimas ali. E passei o resto do filme prendendo tão forte o choro que saí com a garganta doendo. Mas feliz. É bem fácil fazer um filme nostálgico. O difícil é fazer um filme para se ter saudade. E mesmo completamente satisfeito, eu, que ainda não saí da infância, não me incomodaria se esse adeus que eu vi hoje se transformasse num até logo.

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[Toy Story 3, Lee Unkrich, 2010]

P.S.: Bonnie, você é uma gracinha, mas meu Totoro é muito mais bonito do que o seu.

Comentários

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28 comentários sobre “Toy Story 3”

  1. O Totoro que vc me deu foi o melhor presente que eu recebi nos últimos tempos, sério!

    Obrigado pelos elogios, mas nesse filme era impossível não escrever em primeira pessoa. E, sim, vi a matéria de vocês, estava perfeita!

    Sobre sua ‘irritação’, a gente bem que poderia tentar resolver isso, né?

  2. ahhhh ^^ eu estava procurando quem mais tinha notado o Totoro no filme e no primeiro link que eu cliquei foi desse blog!
    Adorei o texto e concordo com tudo que você disse sobre o filme! xD~ Chorei na despedida deles! *_* e também ficava cutucando meu namorado toda vez que o Totoro aparecia! ~.~
    Amei Toy Story 3! e gostei tanto do seu texto que voltarei pra vê-los mais vezes ^^7
    Viva a infância! ^^/

  3. Que texto lindo, até eu que ainda não assisti o filme fiquei perplexo imaginando a minha infância, a minha coleção dos bonecos de HE-MAN, do LEGO, e outros brinquedos. Fiquei emocionadissímo, belissímo texto. Tava inspirado em Chico.

  4. Irmãzinha, que lindo você escrevendo aqui. Ri muito com “os brinquedos maiores” e lembrei de você e do Thomaz o tempo todo. Acho que a gente teve uma infância maravilhosa, né?

  5. Adriano, os filmes que mais me emocionam geralmente têm a infância como tema comum.

    Rebeca, também fiquei imaginando onde meus brinquedos foram parar. Deu saudade.

    Flavia, eu não sei se é a melhor trilogia, mas certamente é a que teve o final mais bonito.

    Drica, acho que este filme une todos os tipos de diferenças.

  6. Irmão!!!! Adorei o filme… Lembrei de todas as minhas chuquinhas, minha casinha com os móveis de madeira, e é claro da chorinho… Qta saudade da chorinho, da inocência, da alegria!!!
    Meu comentário é mais emocional do que crítico. E é claro, o filme me fez lembrar vc e o Tom!!! Meus brinquedos maiores… KKKK. Te amo!

  7. Chico, nem sempre concordo com as criticas. E isso é bom, não é? gostos diferentes. Mas, vc falou tudo sobre o filme. E não, não segurei as lágrimas. Pensei na minha Barbie comprada num descontão na Lobrás, que ainda tenho. dos meus ursinhos. Então olhei pra o meu filho desejando que ele tenha a infância tão linda quanto eu tive…deu um aperto no coração. Coisa de mãe.

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