Tristeza e Alegria

A cena de abertura do filme de Nils Malmros é uma das mais impactantes dos últimos tempos. A frase a seguir não deixa de ser um spoiler, mas a revelação acontece de imediato para o espectador: um homem volta para casa e recebe a notícia devastadora de que a esposa matou a filhinha do casal, de nove meses. O diretor, Nils Malmros, um dos mais importantes nomes do cinema dinamarquês nas últimas décadas, embora tenha feito só três filmes em dez anos, faz um poderoso melodrama sobre a dor da perda. E o que mais impressiona é que a história do filme é uma versão de um dos acontecimentos mais dolorosos da vida do próprio cineasta.

Embora honre a tradição de excelência da dramaturgia escandinava, o filme é muito mais forte quando se concentra no que acontece no tempo presente, trabalhando basicamente com personagens devastadas. Personagens, porque Malmros decide não apontar o dedo para Signe. O diretor, provavelmente embebido por uma tristeza muito particular, estabelece um mundo de desilusão, de dor profunda, sem cores, que captura a essência do que sentem os protagonistas. É tocante e extremamente incômoda a maneira que o cineasta encontra para tentar entender e superar a tragédia: explicar o que levou a esposa a cometer um ato tão extremo.

O altruísmo e a benevolência para com a personagem (ou a esposa) muitas vezes parece mais uma tentativa de lidar melhor com a situação do que de absolvê-la. No entanto, os flashbacks, que Malmros julga necessários para deixar clara a relação entre Johannes e Signe e o estado de saúde mental dela, fragilizam a narrativa, justificando excessivamente os atos da mulher. Por mais que tente equilibrar as coisas, o desespero e a desesperança da sequência de abertura humanizam muito mais os caminhos do protagonista, o alter ego do diretor. Tristeza e Alegria é um filme em que o homem por trás das câmeras se expõe como poucas vezes o cinema viu.

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[Sorg og Glæde, Nils Malmros, 2013]

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