A relação entre X-Men: Primeira Classe e o restante dos filmes sobre os mutantes da Marvel ainda é um mistério. Ao mesmo tempo em que parece criar uma nova linha temporal para a cronologia X nos cinemas, o filme faz referência aos outros longas, inclusive com duas participações especiais que podem indicar que a cronologia será a mesma. Independentemente de sua natureza, o filme é a melhor coisa que poderia ter acontecido à série depois de dois desastres.
O longa apresenta a origem do grupo de mutantes, tomando total liberdade em onde, como e com quem tudo começou nos quadrinhos. Mas todas as transformações, inclusive no perfil dos personagens, parecem bastante seguras e funcionais. O objetivo é nobre: revitalizar os X-Men no cinema, costurando sua história à própria história do mundo. Matthew Vaughn acertou no alvo mesmo com tantas máculas à database tão bem guardada na memória pelos fanboys.
Isso me remete ao 2000. Enquanto metade do planeta se desmanchava em elogios ao primeiro filme dos X-Men, eu só fazia reclamar. O longa de Bryan Singer era cinema de aventura bom, o texto estava acima da média e Hugh Jackman, Anna Paquin, Ian McKellen e Patrick Stewart defenderam muito bem seus personagens. Mas, putz, eu tinha esperado tanto tempo para ver as origens de meus heróis favoritos transformadas?
Pois bem, enquanto todo mundo amava X-Men, eu era um fã decepcionado.
As coisas mudaram radicalmente quando X-Men 2 estreou. Além de aumentar o leque de personagens, o filme, uma versão não-oficial da graphic novel Deus Ama, o Homem Mata, era impecável. O texto dava tratava de preconceito e aceitação com uma inteligência até então inédita num longa com super-heróis. O filme foi um dos meus favoritos me 2003. E, graças a ele, resolvi reconsiderar o que pensava sobre o primeiro.
Seria impossível estrear a série respeitando a cronologia. Eram quase 40 anos de HQs e, para ficar num só exemplo, como começar a história dos X-Men no cinema abrindo mão de Wolverine, um dos heróis mais populares de todos os tempos? Hoje, dois filmes ruins depois (O Confronto Final e Wolverine), X-Men: Primeira Classe vem refundar a franquia. Mudando tudo. Mas, desta vez, eu deixo.
Matthew Vaughn, que deveria ter dirigido o terceiro filme, mas desistiu por causa do pouco tempo que teria para entregá-lo, assumiu essa retomada da série e conseguiu entregar um longa que, mesmo com alguns tropeços, consegue revitalizar a história dos heróis com a consistência que faltou aos dois filmes anteriores. A reintrodução dos personagens fere a cronologia, mas funciona perfeitamente para a história. A costura com a Guerra Fria, muito bem resolvida, catapulta discussões.
O roteiro cria cenas belíssimas, como o primeiro encontro entre Charles Xavier e Mística, e acerta em cheio em toda a sequência da praia, que reafirma o dilema dos mutantes e serve de prólogo para uma nova série longeva, cheia de possibilidades. Há momentos tolos, como a conversa entre Mística e o Fera, antes da cena do soro, onde o texto didático carece do refinamento que vimos em X-Men 2, mas nada chega a comprometer a harmonia do filme.
O elenco é acertadíssimo. Michael Fassbender está excepcional como Magneto. Finalmente um grande papel para ele em Hollywood. James McAvoy está tão bom quanto como o Professor X, mas como faz o bonzinho vai sempre ficar à sombra. Jennifer Lawrence e Kevin Bacon também se destacam e a falta de expressão de January Jones, quem diria?, funciona perfeitamente para o papel de Emma Frost.
Agora resta esperar o próximo passo na história dos mutantes no cinema. Matthew Vaughn diz que aceitaria dirigir uma continuação. Eu, mesmo que este filme esteja longe de ser perfeito, voto nele.
X-Men: Primeira Classe ½
[X-Men: First Class, 2011, Matthew Vaughn]
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Nunca gostei dos filmes da franquia X-Men, mas essa nova produção parece excelente. O elenco também é impressionante.
Realmente mto boa essa saga…. vamos aguardar o próximo.
um abraço.
Chico, não mexa nas estrelinhas, não, deixa assim com 4 mesmo. 😀
Achei Fassbender excepcional, sim (o que me deixa ainda mais doida pra ver “A Dangerous Method”). Ele tem big shoes to fill nesse personagem e acho que deu conta direitinho do recado. Adorei tudo, tudo. Confesso que lia as graphic novels quando era piveta mas me lembro de muito pouco, tá na hora de reler.
Beijo!
Ailton, o Azazel surgiu nos anos 2000. Ele é um mutante-demônio milenar que foi amante da Mística, que á época era casada com um barão. Dessa união, nasceu o Noturno.
Eu fui preparado para achar meia-boca, Diego, e gostei muito mais do que imaginava. Talvez não mereça mesmo as quatro estrelas, eu sempre me empolgo, mas está a meu ver acima da média.
Alexandre, a Rebecca não tem mais do Stamos, deve ter se separado. E sumiu!
Qual a relação entre esse Azazel e o Noturno? Eu não conhecia o personagem… E nem lembrava mais do Fera no terceiro filme do X-Men…
Eu não leio quadrinhos. Não é que eu desgoste, mas simplesmente não é minha praia. Dito isso, eu adoro os filmes da franquia X-Men – com excessão do terceiro, que é consideravelmente inferior aos outros dois. Bem, agora três. Pois este novo exemplar vem para somar, a meu ver. Faz da trilogia uma quadrilogia.
Simplesmente adorei o roteiro, os atores, a direção; enfim, o filme flui deliciosamente, culminando num clímax maravilhoso.
Também gostei muito da aparição de Wolverine, que com apenas mais um corte, uma cena, é colocado com segundos pensamentos. E a participação da Mística “velha”.
Aliás, por onde anda a atriz?
Enfim, ótimo filme. Agora é esperar pra ver como eles darão andamento á história. Como você bem colocou, Chico, o Fera teria 60 nos dias atuais. E eu não havia sacado o “baby” Noturno. Muito bom! Quero muito ver uma continuação.
Um forte abraço.
Mais do que surpreendem, me intrigam as suas quatro estrelas e a aprovação quase que unânime que esse filme tem recebido.
Adoro ‘Kick-ass’, fui preparado para amar esse filme, mas por algum motivo não funcionou para mim. Achei tudo muito ‘Heroes’ demais, diálogos bobos, situações previsíveis, pano de fundo histórico mais clichê impossível, estética anos 60 bem qualquer nota… Como ‘filme’, achei pobre.
Fora isso, sou um dos chatos que detestou a liberdade de reescrever as origens sem dar nenhuma bola às HQs. Entendo que pode ter sido a única saída para não usar os personagens que já tinham aparecido antes, mas ainda assim me parece um time “segunda classe” demais para engolir que foram eles os fundadores dos X-Men.
Concordo que a franquia tava indo pro vinagre, mas nesse caso sou mais pelo “reboot” completo que estão dando em Homem-Aranha do que nessa ginástica esquisita que fizeram pra tentar reinventar a cronologia…
abs, D.
Sobre a linha temporal, quero ver como vão explicar que o Destrutor e o Ciclope são irmãos. E o Fera, que aparece no “X-Men: O Confronto Final”, já tinha 18 anos em 1962. Ou seja, já estaria com mais de 60 hoje em dia. Mas gostei muito da explicação para a deficiência de Xavier e para a união entre Mística e Azazel, que significa Noturno.
O filme ainda tem o mérito de funcionar, mesmo sem poder contar com praticamente todos os membros da formação original dos X-Men, todos queimados nos três filmes anteriores. Só sobrou o Fera. Pelo menos ficou um personagem decente. E o que interessava mesmo eram a trama e Magneto e Xavier. (Não acho que ele tenha mexido com a linha temporal, não.)