Zabriskie PointComo você registra o pensamento revolucionário? Você não registra. Você faz Zabriskie Point.

O filme de Michelangelo Antonioni vai muito além da utilização do cinema como instrumento político ou veículo de debate. Seria muito natural para um cineasta de tendências esquerdistas ligar a câmera e capturar ou encenar discussões filosóficas ou sociológicas numa época em que o mundo, nos mais variados lugares e com as mais variadas pessoas, cobrava transformação. Mas a Antonioni não interessava registrar a revolução. Zabriskie Pont é, em si, a revolução.

Se a primeira cena mostra o debate entre jovens universitários que planejam paralisar o funcionamento de uma faculdade, esta mesma cena termina com um personagem, que mais tarde veríamos se tratar do protagonista do filme, abandonar o encontro chamando a discussão de inútil e pedindo que a revolução fosse na prática. Antonioni segue este personagem, como se fosse utilizar o registro de sua trajetória no registro da revolução. Apresenta uma segunda protagonista como se fosse completar este registro da agonia de uma geração. Mas, quando coloca estes dois personagens frente a frente, Antonioni começa a mostrar o que pretende. O encontro deste dois paralisa e depois anula a narrativa tradicional que vinha se desenhando até então. A revolução passa do tema para a forma. É posta em prática.

O cineasta deforma seu filme para criar uma espécie de experiência sensorial tanto para os personagens quanto para o espectador, como se convidasse nós e eles a um ritual de imagens e sons, onde o que importa é o fluxo transgressor. Antonioni parece dizer que o casal, a partir de agora, se resolve em si e é tudo o que importa. As curvas das montanhas calcárias do Zabriskie Point isolam e elegem os dois. A revolução maior é o homem, parece afirmar o diretor. Para, no minuto seguinte, recriar o mundo pelo sexo. Dois viram dez, vinte, cem. O homem – até então o eleito – perde o significado, se divide em vários, se dilui no capítulo final da revolução de cinema do diretor. E, se ele retoma a narrativa tradicional e os personagens como protagonistas, é para, num final catártico – que nem foi o final que ele queria – mais uma vez, em escala menor, reformular, dessignificar e raivosamente explodir os códigos da banalidade até deformar sua própria fúria em imagens que perdem seu sentido original ao serem olhadas de tão perto.

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[Zabriskie Point, Michelangelo Antonioni, 1970]

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