O tamanho e o documento

Eu nunca fui muito com a cara do Oliver Stone, cineasta com apreço bem exagerado pela polêmica e pelas teorias conspiratórias, mas confesso que assisti a seu último filme com a sincera disposição de não achá-lo ruim, diante da enxurrada de críticas que o longa recebeu. E, para minha surpresa, o filme de Stone realmente não é tão execrável quanto foi pintado. O problema é outro. A versão do cineasta para a vida de Alexandre, o Grande, peca pelo que sobra – até demais – em seus outros filmes: Alexandre é um filme frouxo.

Oliver Stone, num tom quase autobiogáfico de defesa da megalomania, assume para si mesmo e para todos que não sabe o que denunciar. E Stone precisa da denúncia na espinha dorsal de seus filmes. As motivações de Alexandre esbarram numa tentativa mal sucedida de mostrá-lo como confuso filho de um casamento fadado ao fracasso. A mãe da personagem, que coube a uma fake Angelina Jolie, não sustenta essa idéia. E criar visões do pai do conquistador também não funcionou muito bem.

Outro ponto explorado pelo diretor foi a homossexualidade de Alexandre e seu amor pelo general Heféstion. Mas, mais uma vez, o tratamento parece equivocado. Primeiro porque, àquela época, esse conceito, o do amor e sexo entre dois homens, era bem diferente. Segundo porque a relação entre os dois nunca ganha substância suficiente para acreditar que existisse real amor ali. Se Colin Farrell está tímido em cena, sobretudo nas cenas com Heféstion, Jared Leto é de uma incompetência impressionante, completamente alheio a qualquer tipo de expressão facial.

Então, sobra um filme imenso com muito pouco a dizer (apesar do cuidado com a direção de arte). Culpar um Alexandre misterioso, enigmático pela falta de motivações de sua versão cinematográfica me parece muito fácil. E abrir e encerrar o filme com a história sendo contada por Ptolomeu é desnecessário e soa como justificativa para usar Anthony Hopkins no filme. E se Alexandre não cumpre os objetivos de reflexão, que sempre motivam Stone, tampouco cumpre o papel como filme de aventura já que não tem timing, não tem ritmo e a cena grande batalha, no meio do longa, é filmada de forma burocrática. Melhor é o embate na Índia, onde, mesmo abusando do artificialismo em vermelho, há criatividade.

ALEXANDRE
Alexander, Estados Unidos, 2004.
Direção: Oliver Stone.
Roteiro: Oliver Stone, Christopher Kyle e Laeta Kalogridis.
Elenco: Colin Farrell, Jared Leto, Robert Earley, Anthony Hopkins, Angelina Jolie, Val Kilmer, Christopher Plummer, Rosario Dawson, Féodor Atkine, Joseph Morgan, Ian Beattie, Jonathan Rhys-Meyers, Jessie Kam, Connor Paolo, Elliot Cowan, Patrick Carroll, Morgan Christopher Ferris, Denis Conway, Peter Williamson, Neil Jackson, Aleczander Gordon, Garrett Lombard, Chris Aberdein, Rory McCann, Gary Stretch, John Kavanagh, Nick Dunning, Marie Meyer, Fiona O’Shaughnessy, David Bedella.
Fotografia: Rodrigo Prieto. Montagem: Yann Hervé, Alex Marquez e Thomas J. Nordberg. Direção de Arte: Jan Roefls. Música: Vangelis. Figurinos: Jenny Beavan. Produção: Moritz Borman, Jon Kilik, Thomas Schühly, Iain Smith e Oliver Stone. Site Oficial: Alexandre. Duração: 176 min.

nas picapes: Forever for Her is Over for Me, The White Stripes.

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