O RAIO VERDE
A solidão é fera, já dizia o poeta pernambucano, e ela devora Delphine. Nas suas férias, a moça, que tem uma vida sem graça, um emprego sem graça, amigos sem graça, quer descobrir o grande amor que persegue há tempos. Sua busca desesperada, com qual muita gente deve se identificar, é o que torna O Raio Verde um filme interessante. Mas sob a direção de Éric Rohmer, a jornada de Delphine pelos quatro cantos da França à procura do homem perfeito é uma jornada deveras cansativa. Rohmer gosta bastante de retratar o nada que invade a personagem, que não consegue abrir a boca numa conversa com possíveis pretendentes e que espera surgir do céu uma esperança para animar sua vida. Não que situações como estas sejam irreais. Não que não haja pessoas que querem muito e que nada fazem para conseguir. Mas a tentativa de deixar a história o mais natural e próxima da realidade possível guarda problemas para a narrativa, arrastada e muitas vezes desinteressante. Rohmer gosta da contemplação, mas não de trabalhar as imagens. Seu negócio são as personagens, suas ações e reações. E, para isso, tem uma maneira muito particular de conduzir as interpretações de seus atores. Todos parecem não-atores. Todos querem estar o mais longe possível de uma performance. A espontaneidade pretendida, no entanto, os aproxima muitas vezes do amadorismo. A primeira reação – primeira, no sentido de reação mais primordial – é capturada pela câmera e vira verdade. A paixão de Rohmer pela, com o perdão do clichê, “a vida como ela é”, ganha proporções maiores que seus filmes, suas histórias. A procura do diretor por essa essência humana é maior do que a procura de Delphine pelo amor puro. Mas nem todo mundo consegue mesmo ver o raio verde. Um dia ele aparece…
O Raio Verde
Le Rayon Vert, França, 1986
Direção: Éric Rohmer.
Elenco: Marie Rivière, Amira Chemakhi, Sylvie Richez, Lisa Hérédia, Basile Gervaise, Virginie Gervaise, René Hernandez, Dominique Rivière, Laetitia Riviere, Béatrice Romand, Maria Couto-Palos, Isa Bonnet, Yve Doyhamboure, Joël Comarlot, Vincent Gauthier.
Roteiro: Éric Rohmer e Marie Rivière. Produção: Margaret Ménégoz. Fotografia: Sophie Maintigneux. Edição: María Luisa García. Música: Jean-Louis Valéro.