Sinfonia da Necrópole ½
[Sinfonia da Necrópole, Juliana Rojas, 2014]
O horror sempre foi material de trabalho para Juliana Rojas. Os elementos fantásticos e sobrenaturais estão presentes em praticamente todos seus curtas e em seu longa de estreia, Trabalhar Cansa, codirigido pelo parceiro de sempre, Marco Dutra. O que ninguém imaginava é que em seu primeiro trabalho solo, Juliana fosse usar o terror apenas como ambientação para fazer um musical. Sinfonia da Necrópole é um filme único no cinema brasileiro recente, uma mistura de gêneros que, no olhar particular da diretora, encontrou um formato diferente e bem resolvido. Há um clara evolução na direção de atores, na montagem e no próprio fluxo do roteiro em relação ao longa anterior (assim como no primeiro trabalho solo de Dutra, Quando Eu Era Vivo). As músicas de ambos os filmes, por sinal, parecem fazer parte do mesmo disco: de melodias bonitas, autorais, de estruturas complexas. Elas ajudam Juliana a contar a história do aprendiz de coveiro que é convocado para para fazer o recadastramento de túmulos abandonados no cemitério. À medida em que analisa e ironiza o crescimento urbano e homenageia, inclusive no título, Berlim, Sinfonia da Metrópole, Juliana Rojas encontra uma maneira completamente original de fazer cinema no Brasil.
As Horas Finais ½
[These Final Hours, Zak Hilditch, 2014]
As Horas Finais é uma peça rara no cinema de ficção-científica com poucos recursos feito sobretudo longe dos Estados Unidos. O maior acerto do australiano Zak Hilditch foi de acreditar no potencial dramático de seu material, apostando em diálogos fortes, administrando uma melancolia sincera e fugindo de toda e qualquer solução fácil para as dezenas de armadilhas que o gênero, o filme apocalíptico, prepara. Entendemos a motivação de James em fugir para aquela que promete ser a última grande festa do planeta, que poderia ser um alívio cômico para o filme, mas se revela um ambiente de desespero, à mesma medida em que entendemos quando ele atrasa seus planos para ajudar Rose. Hilditch espalha pelo filme pequenos detalhes que ajudam a compor o cenário da catástrofe iminente. Essa inteligência também se percebe na condução de atores. Além de Rose, vivida pela pequena e ótima Angourie Rice, há pelos menos duas grandes atrizes no filme: Kathryn Beck, que faz Vicky, a namorada de James, e Lynette Curran, que interpreta a mãe do protagonista, brilhante em cada minuto da cena em que aparece. A relação entre mãe e filho é costurada de maneira dura e sem concessões. Um filme para comemorar.
A Professora do Jardim da Infância
[Hagenenet, Nadav Lapid, 2014]
Este filme oferece uma oportunidade para variar o leque temático que geralmente é oferecido pelo cinema israelense. Pelo menos o que atravessa o Atlântico. Yoav, o menino prodígio de cinco anos que faz poemas intrincadíssimos, é a personagem central do longa sobre a obsessão de uma mulher. Em seu segundo longa-metragem, Nadav Lapid discute os limites da relação entre professor e aluno e a exploração da criança pelo adulto, colocando a ética e a sanidade no cento do debate e costurando o filme na linha do suspense psicológico. Ainda que o adorável garotinho Avi Shnaidman pareça muito cru para dar credibilidade a sua personagem, Sarit Larry se entrega com tanta intensidade ao papel-título que rouba o filme para ela.