Casa Grande

Casa Grande EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Casa Grande, Fellipe Barbosa, 2014]

O grande cinema brasileiro nos últimos tempos é aquele cuja narrativa ousada vira plataforma para o discurso político de seus autores. A ousadia na linguagem parecia ser o principal caminho para a revolução. Fellipe Barbosa, em sua estreia num longa-metragem de ficção, encontrou uma forma mais simples de fazer seu comentário sobre a situação econômica brasileira, transformando experiências reais vividas por ele mesmo num filme irônico e de discurso direto sobre a crise da classe média do país. Filmou no bairro onde cresceu e na escola em que estudou – e utilizou no elenco pessoas que conhecem de perto a realidade que o Casa Grande apresenta. Thales Cavalcanti interpreta o adolescente coxinha que estuda num colégio tradicional e se apaixona pela aluna de uma escola pública enquanto seu pai (Marcello Novaes muito bem) vive uma derrocada financeira. Sem grandes arquiteturas de roteiro, Barbosa monta um mosaico que engloba a família, os colegas e os empregados da casa do protagonista. Os diálogos irônicos devassam os mínimos detalhes em relação a cada situação e a cada personagem. Todos, por sinal, são tratados com extremo carinho pelo diretor, como se ele buscasse entender suas motivações, mas sem deixar de questioná-los. Poucas vezes um filme brasileiro tratou tão bem e tão amplamente de um tema tão complexo, com tantos braços e pernas e tentáculos. E o melhor: com um humor inteligente que não se nivela com a comédia rasa brasileira produzida a quilo por aí e que também não ameniza as coisas para nenhum lado.

A Moça e os Médicos

A Moça e os Médicos EstrelinhaEstrelinha½
[Tirez la Langue, Mademoiselle, Axelle Ropert, 2014]

Depois de um filme de estreia excelente como A Família Wolberg, exibido na Mostra cinco anos atrás, é de certa forma decepcionante assistir ao novo longa de Axelle Ropert. A Moça e os Médicos está longe de ser um filme ruim, mas a maneira como a diretora constrói a trama deixa pouquíssimo espaço para que se desenvolva o mote principal do filme, o amor de dois irmãos, médicos e parceiros profissionais, pela mesma mulher. Metade do longa é reservada para apresentar essas duas personagens, suas rotinas, sua relação íntima. Um deles é vivido pelo cineasta Cédric Kahn, numa rara aparição como ator, que divide as cenas com Laurent Stocker, da Comédie Française. Os diálogos diferenciados e a maneira original de olhar para um lugar comum, que brotam no filme anterior da diretora, aqui são trocados por uma maneira bem mais convencional de lidar com as motivações das personagens. Ainda assim, depois que se estabelece, o filme cresce bastante.

Lamento

Lamento EstrelinhaEstrelinha½
[Lamento, Jöns Jönsson, 2014]

O grande trunfo de Lamento é sua protagonista, a ótima Gunilla Röör, que dá literalmente vida a Magdalena, uma mulher que não sabe lidar com a dor da morte. Ela esconde a perda de alguém bem próximo criando uma rotina em que anula tudo o que faz com que ela lembre de seu sofrimento, mas a vida resolve colocá-la invariavelmente diante daquilo que ela não quer enfrentar. Lamento é o trabalho de graduação do alemão Jöns Jönsson, que apresentou a sessão de seu filme na Mostra de Cinema de São Paulo. Embora recicle alguns temas já recorrentes no cinema de seu país, como o distanciamento e a solidão, o diretor consegue manter uma curva de roteiro satisfatória para revelar os segredos da personagem e é feliz em encontrar emoção na aridez fria da dramaturgia daquelas bandas.

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