À primeira vista, Ciro é um boa-vida. Adulto, mora sozinho, mas recebe ajuda financeira dos pais. ‘Estudado’, inteligente, vive recusando trabalhos como tradutor. Adota um cachorro, mas não o alimenta. Nem um nome dá pro pobre bicho. Conhece uma menina linda, gostosa, encantadora e, depois de uma noite de ‘amor’, não demonstra o mínimo interesse em revê-la.
Ciro não quer compromisso, mas não é um cara sacana. Ele só tem medo. Medo de se separar completamente da família e de ter que se virar no mundo. Medo de se aceitar um trabalho que não o pague satisfatoriamente e que o condene ao sub-emprego. Medo de dar um nome a um cachorro e de transformá-lo em ‘seu cachorro’ e de ter que cuidar de alguém mesmo sem saber tomar conta de si próprio.
Ciro tem medo de ter uma namorada porque ele não saberia lidar com alguém tão de perto. Ele até gosta da idéia de que alguém cuide dele, mas sabe que a contrapartida seria ter que cuidar de alguém. Ele não quer ter que revelar para ninguém como é grande o medo que ele guarda somente pra ele porque dá vergonha se sentir assim. Ciro tem medo de ser adulto.
Poucas coisas acontecem nos 82 minutos de Cão Sem Dono. Poucas coisas mesmo. Os fatos pouco interessam aos diretores Beto Brant e Renato Ciasca. O foco é como o homem lida com suas limitações e com sua inevitável transformação aos moldes do mundo. O processo pelo qual Ciro é forçado a passar é conseqüência das experiências que ele mesmo se permite ter.
Tudo o que segue é uma espécie de transição tardia de um mundo paralelo, de isolamento e solidão, para a vontade de se estabelecer, de celebrar sua existência. É o embate entre a então confortável – e assustadora – escolha pela abstração e o amor, o que mais?, que oferece direção, drama e densidade. Com razão e sentido, a pergunta não é mais sobre quando a vida vai mudar, mas sobre o que ela tem para oferecer.
Cão Sem Dono é sobre vida pulsando. E sobre querer um quadro na parede.
Cão Sem Dono
[Cão Sem Dono, Beto Brant e Renato Ciasca, 2007]
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Fiquei louco pra ver!! é muito interessante a história!!
Que texto maravilhoso, Chico. Parabéns.Não assisti ainda, certamente irei adorar.
Eu fui. Teu texto é lindo. É daqueles para reler sempre. Porque não entra no filme, mas é inteiramente sobre ele. beijo e saudade de tu
doida pra ver.
doida.
Perguntinha barbada…
Quais são as músicas de Astor Piazzolla são utilizadas por Arnaldo Jabor em Toda a Nudez será Castigada?
A pergunta é meio difícil, mas preciso da resposta.
Abraço.
Acho que chega, sim, Rodrigo. Apesar do esquema deste filme ser mais indie, o Beto Brant já tem um nome a zelar.
Uau, agora que eu fiquei com vontade de assistir mesmo (só não sei quando o filme vai chegar em Fortaleza – “se”, na verdade).