O passageiro do lado

Muitas vezes a pior parte de uma viagem de avião é justamente quem senta ao seu lado. Depois de Amaldiçoados, que chegou aos cinemas dois meses atrás, Wes Craven limpa seu nome com um filme bom. Vôo Noturno tem o mérito de retirar Craven do universo do cinema de terror e mostrar o fôlego do diretor num filme de suspense, que se apega à tensão, construída com extrema eficiência. Tensão, inclusive e, talvez sobretudo, verbal. Muito da invenção está no diálogo entregue aos protagonistas. Desde a apresentação das personagens, os passageiros do vôo, o roteiro revela que ali tem coisa boa.

O casting foi acertadíssimo: Cillian Murphy, com uma propensão natural à psicopatia (uma indicação para o Alfred pelo Espantalho de Batman Begins seria exagero?), é o contraponto ideal para a belezinha Rachel McAdams, que tem se mostrado não apenas boa atriz, mas esperta na escolha de seus filmes. Sem excessos, dá conta do recado. A dupla – e o roteiro enxuto (o filme é deliciosamente rapidinho mesmo) – mantêm o ritmo incessante, que pega o espectador pelo pé. O único senão é o último ato, que parece sobrar. Se o filme não saísse do aeroporto seria perfeito.

Vôo Noturno
Red Eye, Estados Unidos, 2005.
Direção:: Wes Craven.
Roteiro: Carl Ellsworth, a partir de estória de Dan Foos e Carl Ellsworth.
Elenco: Rachel McAdams, Cillian Murphy, Brian Cox, Jayma Mays, Robert Pine, Jack Scalia, Brittany Oaks, Tina Anderson, Carl Gilliard, Suzie Plakson, Max Kasch, Laura Johnson, Angela Paton.
Fotografia: Robert D. Yeoman. Montagem: Stuart Levy e Patrick Lussier. Direção de Arte: Bruce Alan Miller. Música: Marco Beltrami e Tom Mesmer. Figurino: Mary Claire Hannan. Produção: Chris Bender e Mariane Maddalena. Site Oficial: Vôo Noturno. Duração: 85 min.

rodapé: três estréias nesta sexta-feira nos cinemas de Salvador: a reprise da série de TV Os Gatões- Uma Nova Balada, com o insuportável Johnny Knoxville, a comédia O Virgem de 40 anos, que parece ser bobagem pura, e o adorável documentário brasileiro Doutores da Alegria, filmaço de Mara Mourão.

nas picapes: The Beaten Generation, The The.

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