A maior parte das críticas publicadas na imprensa brasileira sobre Demolidor reforçam a única opinião: trata-se de um filme que cumpre muito bem seu papel de aventura rápida. Mal de crítico brasileiro pouco próximo do universo dos quadrinhos que acredita que o máximo de profundidade num herói é um rosto escondido sob uma máscara. O Demolidor, o personagem criado por Stan Lee na década de 60, nunca protagonizou aventuras rápidas. O herói é uma das mais elaboradas personalidades da Marvel Comics. Um justiceiro noturno movido pelo senso de vingança e de justiça. Uma espécie de Batman sem capa.

O diretor quase estreante demonstra reverência ao personagem em cada centímetro de película, mas nunca consegue dar a densidade necessária ao herói, reformulado por Frank Miller na década de 80 e por Kevin Smith há alguns anos. Johnson parece tropeçar em seu próprio intento: fazer um filme à altura do Demolidor. Cria imagens bonitas, mas as sobrepõe com takes pretensiosamente poéticos e realmente kitsch. As rosas vermelhas do Rei do Crime caem a toda hora por Manhattan. O cineasta também tenta homenagear os grandes da Marvel, mas as aparições de Kevin Smith e Stan Lee se perdem na extensa lista de desenhistas e roteiristas homenageados com nomes de personagens: (Joe) Quesada, (John) Romita, (Frank) Miller, (Jack) Kirby e o próprio Stan Lee.

Outro problema é incorrigível: Ben Affleck. O rapaz até que tenta dar a dignidade necessária ao advogado cego Matt Murdock, mas seus esforços se mostram em vão na primeira cena com maior carga dramática. Affleck deveria ter se contentado em ser fã – e só. Depois de um Peter Parker tão perfeito em Tobey Maguire e um Wolverine possuindo Hugh Jackman, não dá pra se contentar com o galã. Jennifer Garner é linda, mas Elektra merecia muito mais. Começando pela interpretação. Michael Clarke Duncan foi escolha acertada como o Rei do Crime, apesar do personagem original ser branco. E Colin Farrell está perfeito na pele do Mercenário. No geral, o filme é simpático e dá para perceber como todo mundo envolvido tentou fazer um trabalho à altura, mas o problema é que o Demolidor merecia muito mais.

Demolidor, o Homem Sem Medo EstrelinhaEstrelinha
[Daredevil, Mark Steven Johnson, 2003]

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