O Dominador ½
[Cho-Neung-Nyeok-Ja, Kim Min-suk, 2010]
O maior trunfo do estreante Kim Min-suk em seu filme de superpoderes foi acreditar na história que está contanto. O Dominador, que seria uma benção pop em nosso circuito comercial, é um filme sério sobre o assunto. Não está pra brincadeira. Não perde tempo com piadas metalinguísticas, nem citações ou referências.
Enquanto muitos diretores gastam energia nesses frufrus, Min-suk se concentra no comando de sua história, que não dá trégua ao espectador, e no acabamento de seu filme, incluindo fotografia, montagem, som, trilha e efeitos visuais discretos e precisos. Sobra para quem assiste embarcar ou não numa história envolvente contada da maneira mais competente que eu possa imaginar.
Respirar
[Atmen, Karl Markovics, 2011]
O filme de Karl Markovics tirou do polêmico Michael a indicação da Áustria para o Oscar do ano que vem. Embora os dois sejam filmes duros, que revelam ou reafirmam uma faceta do cinema feito no país, a pedofilia é um tema muito mais delicado do que a vida conturbada de um rapaz que tenta sair de um centro de detenção juvenil e recomeçar sua vida.
Markovics usa algumas metáforas óbvias para justificar a escolha de seu título e segue uma tendência tradicional do cinema da Europa Central em criar filmes “limpinhos” e duros, mas no geral administra com propriedade o misto de fúria adolescente com a vontade do personagem de passar para o próximo capítulo. A identificação com o protagonista, embora não haja esforço para isso, é quase inevitável.
Labrador
[Labrador, Frederikke Aspökke, 2011]
O filme de Frederikke Aspökke sofre com aquele temperamento nórdico que varia entre a melancolia frígida e o humor seco. Labrador mostra um reencontro em família, onde o peso do passado surge como catalisador de mudanças. A trama é repetitiva, mas as ideias de como conduzi-la talvez incomodem mais.
Despair ½
[Despair – Eine Reine Ins Licht, Rainer Werner Fassbinder, 1978]
A cópia restaurada de Despair, filme que marca o encontro entre Fassbinder, o dramaturgo Tom Stoppard que assina o roteiro e o autor Vladimir Nabokov, que escreveu o texto original, foi exibida no Festival de Cannes e é um dos achados da Mostra de Cinema de São Paulo desse ano. Apesar de ser digital, a qualidade do material é ótima e o filme impressiona na transposição de teatro para cinema. Dirk Bogarde está inspiradíssimo no papel, que Fassbinder transforma num tipo afetado, do homem que tenta dar um golpe na Alemanha pré-Segunda Guerra. O texto, extremamente sarcástico com o status quo e as personas da época, incluindo Hitler, é delicioso de se acompanhar e a fotografia, que não dispensa um movimento de câmera, ajuda a manter a agilidade e o dinamismo do material. Os coadjuvantes chamam a atenção.
Parada em Pleno Curso ½
[Halt Auf Freier Strecke, Andreas Dresden, 2011]