Parada em Pleno Curso não é um filme para qualquer um. Sem demérito para o espectador ou para a obra, que ganhou o prêmio da mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes do ano passado. O fato é que um longa que acompanha com riqueza de detalhes a degradação física e mental de um homem que se descobre acometido por um câncer pode não ser bem digerido por todo mundo.

O diretor Andreas Dresen adota a postura de um médico diante do assunto: parece se afastar do objeto para assumir uma posição de neutralidade diante dele. Durante quase todo o filme, ele evita a manipulação emocional, que, ao mesmo tempo, enche histórias deste tipo de maneirismos dramáticos que geralmente simplificam o material à condição de acertos de contas ao mesmo tempo que ganham a função de dar conforto ao espectador, com “lições de vida” e demonstrações de carinho.

Aqui, acontece o inverso. Dresen parece quere ser fiel à gravidade da situação, sem abrir espaço para qualquer alento. O tom adotado é o de ultrarrealismo: o filme é um retrato minucioso da transformação nas vidas do personagem principal e de sua família depois da notícia. O quê documental do filme não poupa o espectador de cenas envolvendo procedimentos de enfermagem e de momentos dolorosos que reconstituem a perda das funções de um doente terminal.

O clima de racionalização incomoda bastante, mas é o diferencial do filme. A proposta fechada do diretor sofre um abalo quando ele recorre a um artifício fantástico talvez para fugir da secura do tema. É aí que um filme cruel, sobre a degradação de um ser humano, revela que existe um homem por trás das câmeras. Alguém que precisa recorrer a uma pequena epifania para dar conta de seu trabalho

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[Halt Auf Freier Strecke, Andreas Dresen, 2011]

Texto originalmente publicado no Uol.

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