Apesar de Andrey Zvyagintsev já ter uma carreira de mais de 12 anos como cineasta, Elena é apenas o terceiro longa-metragem que o russo dirigiu. Aqui, ele investiga os limites da maternidade a partir dos vestígios do paternalismo socialista, num país que vive das ruínas de um império. A protagonista (Nadezhda Markina) é uma velha senhora, um ex-enfermeira que hoje está casada com um homem rico, mas que ainda é a responsável pelo sustento dos filhos já crescidos.

Nesse novo trabalho, o cineasta parece ter se libertado da obsessão pelos filtros de seu filme de estreia, o fortíssimo drama familiar O Retorno, mas não abandonou os tons de azul e o cuidado com a câmera. É ela que passeia pela casa, cenário principal de Elena, apresentando cada cômodo, cada detalhe. Somente depois de tornar o espectador íntimo do espaço é que a casa aparece povoada. E, mais uma vez, apenas após conhecermos a rotina destes personagens é que somos apresentados a suas histórias.

Mas Zvyagintsev não sustenta o modelo por tanto tempo e o filme não se arrisca além em sua proposta, parecendo chegar não muito longe de onde partiu, apesar dos desdobramentos da história. A grande interpretação de Nadezhda Markina, que ganhou alguns prêmios internacionais, inclusive o “Oscar da Rússia”, termina num plano bastante superior ao do filme. Sua personagem é a força vital do longa, transitando entre a apatia com o marido, o amor pelos filhos e a crueldade cirúrgica na hora de resolver seus problemas.

Elena, por fim, faz um curioso paralelo com O Retorno. Ambos centrados nas relações familiares. Em seu primeiro trabalho, o diretor acompanha um pai que tenta reconstruir seu relacionamento com os filhos depois de anos de ausência. No novo longa, ele apresenta uma mãe incapaz de deixar os filhos seguirem suas vidas, sozinhos.

Elena EstrelinhaEstrelinha½
[Elena, Andrey Zvyagintsev, 2011]

Texto publicado originalmente no Uol.

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