A Imagem que Falta

Rithy Panh nunca foi muito de fazer poesia, mas A Imagem que Falta talvez seja seu filme mais delicado, para não dizer poético. Sua carreira como diretor é quase inteiramente dedicada a um tema único, os anos em que o Khmer Vermelho governou e massacrou o Camboja. Em filmes seminais, Panh dissecou personagens, lugares e posturas, reconstruindo o que aconteceu através de depoimentos e de imagens que remetem, mas não retratam o passado. Durante mais de duas décadas, o cambojano caçou imagens para contar sua história, mas a memória dos anos de massacre não estavam disponíveis. Quase não havia fotos e filmes que tivessem documentado o terror em seu país. Sua procura foi registrada num livro, L’Elimination, escrito junto com Christophe Bataille.

A partir de suas experiências pessoais narradas neste livro, Panh resolveu interromper sua busca e produzir suas próprias imagens. Em vez das entrevistas com pessoas que viveram (dos dois lados) a dominação do Khmer Vermelho, em vez das reencenações que antecipavam O Ato de Matar em mais de quinze anos, Panh resolveu materializar suas memórias em uma impressionante série de maquetes e miniaturas feitas à base de madeira que ajudam a criar um testemunho visual da época em que dois milhões de pessoas foram assassinadas, inclusive a família de Rithy Panh. O diretor recria com riqueza de detalhes o cotidiano nos “campos de trabalho”, as cenas de violência e a perda, um a um de seus parentes mais próximos. “Imagens” que o cineasta finalmente conseguiu dividir.

Nesse contexto, mesmo que não seja o filme mais forte, nem o melhor trabalho de Rithy Panh, A Imagem que Falta é sua obra mais intimista porque, de todos os documentários que o cineasta dirigiu (ele sempre deixou a desejar nas ficções), nenhum captura de forma tão abrangente e tão em primeira pessoa, sua percepção sobre a própria vida. As imagens criadas por Panh justificam e reafirmam o texto duro e triste do filme. Combinadas, palavra e imagem ajudam a compartilhar as memórias do diretor. Mais que um documento histórico, este filme é uma forma de exorcizar um trauma, um acerto de contas de um homem e de um país com seu passado de barbárie.

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[L’Image Manquante, Rithy Panh, 2013]

Comentários

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2 comentários sobre “A Imagem que Falta”

  1. Deu para avaliar a loucura do Khmer Vermelho, que usando o poder emprestado do comunismo acaba destruindo uma Nação. E pensar que ainda há gente achando que o Marxismo dá certo. Quando se atribui poderes sem limites, a um bando de militares é exatamente isso que acontece. Escravizam até crianças para eles viverem no conforto e na regalia. Dois milhões de cambojanos mortos e o mundo nem tomou conhecimento!

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