O único filme dirigido por Christopher Larkin divide opiniões desde que foi lançado, em 1974, e segue assim até hoje. Aparentemente a ideia do diretor de mostrar uma relação homossexual como uma relação romântica e explorar as questões inerentes aos altos e baixos na história de qualquer casal incomodou e incomoda muita gente. Enquanto críticos de veículos tradicionais consideravam a perspectiva adotada por Larkin como um gesto político que deixava o entretenimento para trás, boa parte da comunidade LGBT achava que o diretor não tinha feito um filme suficientemente combativo.

Essa última visão em particular tem seu sentido porque, pós-Stonewall, os artistas gays, principalmente em Nova York, naturalmente se alinharam a discursos mais militantes, mas não deixa de ser uma visão bem pouco generosa porque Larkin nunca nega seu discurso: ele abre e encerra o filme com cenas documentais gravadas na Parada Gay de NYC, em que homens e mulheres homossexuais falam abertamente para a câmera sobre o amor gay como “a very natural thing”, ele não ignora a nudez, a troca de parceiros, discute comportamentos próprios ao mundo gay e fala abertamente de sexo, aquela coisa suja que costuma macular o romantismo. Por mais que possa ser enxergado como simples demais, o filme de Larkin é mais ousado do que parece.

Por outro lado, é fato que “Algo Muito Natural” realmente tem um lado muito ingênuo em sua tentativa de “normalização” da condição homossexual, praticamente ignorando o que há de exterior à relação dos personagens principais. Além disso, seu ponto de partida é muito simples (um homem deixa o monastério e já cai na balada gay sem muita discussão) e sua trama segue da mesma forma. Por fim, a realização é bem básica — e em alguns aspectos até um tanto precária. Mas o filme tem um mérito incontestável: foi um dos primeiros destinados a um público maior que mostram uma relação entre duas pessoas do mesmo sexo como uma relação natural entre duas pessoas. Por um lado, Larkin queria fugir do estereótipo do gay sofredor, condenado à marginalidade na sociedade e no amor que infestava as representações do homossexual no cinema até então. E, se soa ingênuo, “Algo Muito Natural” nunca é alienado. Quando Larkin brinca com os clichês de “Love Story”, com o casal rolando no parque e reformulando a frase mais famosa do filme de Arthur Hiller, seu recado está dado: “Amar significa nunca ter que dizer que você está apaixonado”.

Algo Muito Natural ★★★
A Very Natural Thing, Christopher Larkin, 1974

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