AMAR É SOFRER

Teatro, quando vira cinema, nem sempre dá certo. George Seaton é um diretor clássico, daqueles que faziam filmes com classe, mas dentro de uma formalidade quase intocável, mesmo que o tema fosse mais provocador. Em Amar é Sofrer, Seaton adapta de próprio punho a peça de Clifford Odets sobre o artista decadente e alcoólatra que ganha a chance de retomar sua carreira. Bing Crosby recebe um papel que parece uma versão dramática das comédias que estrelava. Um patetão gente boa, mas que tem problemas de caráter. A princípio, deveria ser o foco do filme, mas os holofotes voltam-se para outra pessoa do elenco. Seaton aposta numa poderosa interpretação de Grace Kelly, que faz a esposa do bêbado. A então futura princesa nunca foi uma excelente atriz, mas o encanto de sua figura seduz qualquer platéia. E aqui, ela consegue um vigor impressionante em sua interpretação. A maquiagem tenta esconder sua beleza para mostrar seu talento. Não consegue esconder, mas consegue mostrar. Grace, que ganhou o Oscar por sua interpretação – num ano onde era impossível imaginar que o pleadão dourado fosse para nas mãos de outra que não Judy Garland, por Nasce uma Estrela, é a mulher forte. Sustenta o filme nas costas. Seu rosto sério, por mais que esbarre na caricatura algumas vezes, tira qualquer dúvida de seu talento. Ela e a espetacular direção de fotografia do então estreante John F. Warren, que vai ao teatro para fazer cinema e explode em jatos de luz nos rotos dos personagens, são as melhores coisas do filme, que, como todos os filmes de George Seaton, é clássico e classudo.

Amar é Sofrer
The Country Girl, EUA, 1954
Direção: George Seaton.
Elenco: Bing Crosby, Grace Kelly, William Holden, Anthony Ross, Gene Reynolds, Jacqueline Fontaine, Eddie Ryder, Robert Kent, John W. Reynolds, Bob Alden, George Chakiris, Les Clark, Hal K. Dawson.
Roteiro: George Seaton, baseado na peça de Clifford Odets. Produção: William Perlberg e George Seaton. Fotografia: John F. Warren. Edição: Ellsworth Hoagland. Direção de Arte: Roland Anderson e Hal Pereira. Figurinos: Edith Head. Música: Victor Young, com canções de Harold Arlen.

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